Talvez seja uma tendência do ser humano cobrar das pessoas, da vida, do destino, tudo aquilo que ele acha que merece. Frequentemente, lamentamos a situação pela qual passamos, como se estivéssemos sendo injustiçados, por não merecermos aquilo tudo. Costumamos, assim, olhar sempre para nós mesmos, esquecendo-nos, muitas vezes, de voltar os olhos lá para fora, a fim de percebermos que muito do que nos vem é reflexo direto do que ofertamos ou deixamos de ofertar.
É muito difícil tomarmos consciência de nossa responsabilidade sobre os fatos que nos sucedem, uma vez que isso requer maturidade e enfrentamentos dolorosos. Colher o que se plantou com sementes egoístas e maldosas é um exercício doloroso, pois é assim que somos forçados a crescer como seres humanos. Ninguém cresce fazendo o que quiser, agindo como bem entender, falando o que vier à cabeça, a quem estiver à sua frente. Somente somos e existimos na interação com o outro e isso implica sair de si mesmo, implica enxergarmos a nós próprios na vida do próximo.
Quando dói a alma, a ponto de termos que nos livrar do que fere, conseguimos refletir sobre o que fizemos e sobre a forma como agimos. Dessa forma, seremos praticamente forçados a mudar os nossos comportamentos, para que passemos a tratar as pessoas e o mundo de uma maneira digna, pois, então, estaremos sedentos de redenção, de perdão e de dignidade. Entenderemos que ninguém nos retornará flores se tivermos lançado espinhos.
Teremos que perceber que, muitas vezes, cobramos amizade de quem nunca procuramos, pedimos atenção de quem sempre tratamos com invisibilidade, exigimos carinho de quem recebe somente vazio de nós, lamentando os ecos dolorosos de nossas próprias ações. Ninguém consegue fugir ao enfrentamento de tudo o que fez, falou, causou ou negligenciou. Pode demorar, pode parecer que não, mas a vida cobra a conta exata de cada um de nós e com juros dolorosos. Se cada um dá o que tem, cada um também receberá de acordo com o que deu.
Como se vê, antes de cobrarmos do outro, percebamos se estamos dispostos a retorná-lo na mesma medida, sejam sentimentos, sejam atitudes, sejam palavras, seja o que for. Porque ninguém, a não ser em casos de caridade, é obrigado a ficar ofertando aquilo que vai sem retorno, vai sem volta, vai para nunca mais. Ninguém.
Imagem de capa: fizkes/shutterstock
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