A maioria das pessoas fantasiam encontrar a pessoa “ideal”, aquela dos seus sonhos, para que juntos possam construir um relacionamento “perfeito”. De fato, relacionamentos perfeitos só existem em sonhos, nos contos de fadas ou nas propagandas da família permanentemente feliz, onde não há problemas, nem desafios. No mundo real, a dinâmica é bem diferente. Esta crença disfuncional do “par perfeito” pode custar um alto preço, o da frustração e da decepção, o que leva à insatisfação relacional por conta de expectativas não atendidas. Um dos fatores que sabotam as pessoas em seus relacionamentos, é a impulsividade em acreditar num primeiro momento em ter encontrado a pessoa ideal e pensar que a fase da paixão cega será eterna. No entanto, caso o relacionamento chegue à fase de estabilização, pode existir a crença de que o parceiro não é mais o mesmo. Sim, muitas coisas mudam, e uma delas é a percepção realística que agora se pode ter do objeto de desejo, sem os véus da paixão.
Não existem receitas prontas quando o assunto é relacionamento, pois não existem pessoas perfeitas, o que dirá relacionamento perfeito, já que este é constituído a partir de pessoas em constante construção, em permanentes aprendizados, em devir.
O que pode ser construído dentro da possibilidade de uma realidade possível é um relacionamento saudável, que é uma proposta bem mais sensata.
Para que um relacionamento saudável se desenvolva e se estabeleça, elaborei 4 pontos fundamentais para que este funcione, promovendo crescimento e bem estar a ambos os parceiros:
A idealização do parceiro é uma armadilha. Não é um exercício fácil, mas é imprescindível não cobrar do outro a partir da própria perspectiva imaginária do que deveria ser uma pessoa ideal ou um relacionamento perfeito. Seria muito egoísmo do parceiro pretender que a outra pessoa correspondesse a todas as suas expectativas e desejos. Esta postura não respeita a individualidade nem a subjetividade do outro. Cada pessoa traz seus modelos de vida, suas bagagens, sua maneira particular de ser e estar no mundo.
Relacionamentos reais têm diferenças, dificuldades e desafios, mas também experiências de superação, de aprendizado e de sedimentação. Lembrando que pessoas reais têm defeitos e virtudes; pessoas ideais são somente um produto da imaginação de quem as criam.
Incongruências relacionais sempre existirão, por mais que os parceiros tenham afinidade, metas e objetivos em comum. A “perfeição” de um relacionamento reside em sua sincronicidade, companheirismo, cumplicidade e respeito para com a subjetividade do outro. Um relacionamento “perfeito” é aquele que funciona em harmonia na dinâmica relacional em constante transformação.
Pontos em comum e afinidades são importantes para o enraizamento e manutenção do relacionamento. Contudo, reitero que não existe a alma gêmea, a metade da laranja, alguém que esteja pronto para completar o outro, sendo exatamente nestas diferenças que são promovidos grandes aprendizados, a partir de um olhar distinto, de uma vivência perceptiva subjetivada a partir do olhar do outro.
Quando as pessoas estão realmente dispostas a se relacionarem com um outro real, não na perspectiva de uma projeção criada, onde há o reconhecimento de uma individualidade, as pessoas envolvidas se enriquecem, oportunizando-se a olharem para a vida a partir de um outro parâmetro.
Um diálogo bem estruturado é imprescindível para desenvolver o companheirismo, a empatia e a cumplicidade, além de aparar as arestas de uma comunicação que porventura não ficou bem esclarecida ou não foi muito eficaz e consequentemente permitindo que pudessem abrir brechas para que padrões comportamentais destrutivos danifiquem o relacionamento. Podemos hipotetizar o que o outro pensa ou porque age de determinada maneira, mas somente através de um diálogo sincero e honesto, poderemos perscrutar, discernir e avaliar como cada um se sente diante de determinadas situações para estabelecer acordos que beneficiem a ambos.
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