Por Fabíola Simões
Lendo o livro “A coragem de ser imperfeito”, de Brené Brown, me deparei com um trecho em que ela diferencia “ser aceito” de “se encaixar”. Em suas palavras, “se encaixar e ser aceito não são a mesma coisa. Na verdade, encaixar-se é um dos maiores obstáculos para a aceitação. Encaixar-se tem a ver com avaliar uma situação e tornar-se quem você precisa ser para ser aceito. A aceitação, ao contrário, não exige que você mude, ela exige que você seja quem você realmente é”.
Isso foi como um soco no estômago para mim. Pois durante muito tempo me importei mais em me encaixar do que em ser aceita como realmente sou. Durante muito tempo me esforcei mais para ser a pessoa que esperavam que eu fosse – com medo de ser desaprovada e menos amada – do que para ser alguém coerente com as coisas que realmente fazem sentido para mim. O medo da rejeição me fazia atender às expectativas sem me questionar quais eram meus desejos, minhas opiniões, minhas certezas.
Viver de acordo com o que esperam de nós e não como realmente somos é perigoso e nos adoece. Viver suprindo as expectativas dos outros nos faz olhar para nós mesmos com desamor, pois valorizamos mais o que é exigido de nós do que aquilo que realmente desejamos. Viver sem coragem de assumir nossas escolhas, nossos gostos pessoais, nossos contentamentos ou desgostos como se isso fosse errado ou vergonhoso, diminui nosso amor-próprio e nos conduz a uma vida dolorosa de aparências.
Não precisamos ter receio de não sermos “bons o bastante”. Não precisamos esconder nossas escolhas, gostos, preferências, contentamentos e desejos sob um manto de “perfeição” que só satisfaz quem está do lado de fora, mas não satisfaz quem habita nossa própria pele.
Aos quarenta e quatro anos, a duras penas, tenho aprendido a assumir quem sou de fato. Tenho descoberto que muito daquilo que eu acatava como certo, não é certo para mim. Tenho acariciado minha alma ao reconhecer que também faço boas escolhas, baseadas no que acredito, e não naquilo que é simplesmente imposto e ordenado. Tenho aprendido que minha baixa autoestima também vinha do fato de que eu duvidava da minha própria capacidade de posicionamento, pois preferia seguir o “script” a ousar dirigir minha própria versão da história.
Algo dentro de mim se entristece ao perceber que demorei tanto tempo para aprender isso. Porém, algo também se iluminou, pois percebi que, embora tenha assumido minha própria identidade, não perdi o amor daqueles que realmente importam.
Quando achamos que não somos bons o bastante, ou quando nos condicionamos a acreditar que nossas opiniões e argumentos são fracos e insignificantes perto das opiniões e argumentos dos outros, nos fechamos. Preferimos não opinar, não argumentar, não correr riscos, não nos expor. Porém, também não vivemos uma vida plena. Não descobrimos que somos sim bons o bastante, que somos sim corajosos e fortes, que somos sim dignos de sermos escutados e apoiados.
É preciso acreditar que não importa o que pensam, dizem ou esperam de você. Você tem o seu valor. Você tem o seu valor mesmo se discordar de alguém, mesmo se optar por outro caminho, mesmo se fizer ou não fizer o que esperam de você. Você não é perfeito, mas ainda assim tem seu valor.
Às vezes é preciso fazer algo muito diferente do combinado para que você perceba que realmente o mundo não desaba quando você ousa ser você mesmo. Na hora dói, machuca, e você se pergunta se fez a coisa certa. Mas depois passa. As pessoas começam a te respeitar mais e, o mais importante, você começa a se respeitar mais. Pois descobre que aquela voz interna que falava baixinho dentro de você, também tem força, importância e muita convicção em sua argumentação.
Às vezes, descobrir que somos as “ovelhas negras” da família não nos torna pessoas ruins, mas sim pessoas que têm a coragem de expor suas imperfeições e vulnerabilidades do mesmo modo que expõem seus dons e qualidades; pessoas que ousam ser quem são independente do que os outros desejam que sejam. Pessoas que têm a maturidade de se posicionar com segurança, correndo o risco de decepcionar alguns, mas certamente de ganhar a admiração e o respeito de outros, e mais ainda, de si mesmos.
Enfim, gostaria de terminar com um trecho do livro de Brené Brown, que achei extremamente verdadeiro e feito para mim: “Desnudar-se emocionalmente significa correr um risco muito maior de ser magoado. Mas, quando faço uma retrospectiva de minha própria vida e do que viver com ousadia provocou em mim, posso dizer com sinceridade que nada é mais incômodo, perigoso e doloroso do que constatar que estou do lado de fora da minha vida, olhando para ela e imaginando como seria se eu tivesse a coragem de me mostrar e deixar que me vissem”.
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*Imagem de capa: Filme “A Felicidade por um fio” – Pesquisa Google
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