O amadurecimento nos traz muita coisa boa, pois é somente com o passar do tempo que conseguimos entender muito daquilo que nos agoniava quando jovens. Passamos a aceitar que o tempo da vida não é o mesmo da gente e que nem tudo – ou quase nada – ocorre exatamente como desejamos. Infelizmente, o amadurecimento torna muitas pessoas céticas demais, descrentes e incapazes de colorir o mundo lá fora, mesmo que de maneira boba.
Quando crianças, temos a capacidade de acreditar nas coisas e nas pessoas, de imaginar o melhor em tudo o que existe, porque tudo é tão novo, tão real. Crianças precisam tocar, sentir, ver e ouvir, encantando-se com cada nova descoberta, com cada nova amizade, com cada viagem, cada pedacinho de jardim. E então a gente vai crescendo e nada mais parece ter aquele viço, como se já conhecêssemos tudo e nada pudéssemos esperar de ninguém.
Talvez seja este o maior problema que existe no mundo de hoje: a incapacidade de se encantar. A vida adulta nos cobra tempo demais, apaga as ilusões, colocando-nos frente a frente com a dor da decepção, a dor das perdas, a dor da morte. A finitude do mundo lá fora acaba por nos invadir os sentidos, tornando-nos frios e sérios. Afinal, é feio adulto rir à toa; parece bobo quem é otimista demais; quanta imaturidade em se divertir com pouco.
Na verdade, confundir amadurecimento com carranca é um desserviço à saúde mental de qualquer pessoa, porque nada mais ensurdecedor aos sentimentos do que o mau humor, o pessimismo, a cara e o coração fechados. É preciso se encantar com o que há lá fora a ser vivido, experimentado, sentido. É preciso manter aqui dentro os sonhos de uma vida melhor, junto a gente do bem. É preciso acreditar no amor verdadeiro, em gente de verdade.
Perdemos tanto tempo atrás do que está exposto nas vitrines e nos apelos midiáticos, que acabamos nos esquecendo de olhar tudo o que existe ao nosso redor e pode ser desfrutado de graça, como um sorriso sincero, um bom dia com gosto de amor, um amigo que nos pergunta se estamos bem. Não, jamais poderemos nos permitir perder a capacidade de nos encantar. Afinal, é assim que a gente se eterniza.
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