Por Cristina Ling
Um dia, conversando com meus amigos sobre a possibilidade de viajar, um deles disse que adoraria conhecer Lyon, na França, mas que, para isso, precisava de um companheiro. “Não penso em viajar sozinho. Ninguém gosta de viajar sozinho”, afirmou.
Este comentário desencadeou uma série de pensamentos que já haviam rondado a minha cabeça tempos antes. Por que as pessoas consideram inaceitável fazer as coisas sozinhas? E por que os outros sempre acham que as pessoas não querem fazer as coisas sozinhas? Entendo que pessoas com este tipo de ideia se baseiam em crenças de que nós, como seres humanos, somos seres sociais. É natural que queiramos dividir nossas experiências com os outros. Socializar e conversar são as maneiras que temos para fazer novas amizades e, finalmente, ajudarmos uns aos outros a crescer.
Não obstante, fico chocada ao ver como algumas pessoas acham estranho que alguém queira fazer algo sozinho. Segundo as normas sociais, atividades como sair para jantar ou ir ao cinema são encaradas como situações sociais que devem ser vividas em companhia de outra pessoa. É um costume do comportamento humano realizar essas atividades em conjunto, mas ver uma pessoa sozinha fazendo a mesma coisa não significa que ela sinta solidão ou que não tenha amigos.
Ainda mais importante é o direito que todos temos de simplesmente não querer entreter outra pessoa, ou mesmo não querer socializar. Todos os dias nos sentamos em frente ao computador e somos bombardeados com todo tipo de informação. Além disso, não importa se introvertidos ou extrovertidos, somos constantemente obrigados e nos relacionarmos com pessoas todos os dias, o que já é extremamente cansativo.
Quem disse que o nosso próprio tempo deve ser usado dentro de casa, de pijama, vendo Netflix e comendo pizza? Por que fazer isso sozinho é aceitável, mas sair de casa e fazer algo diferente, não? Tomar um café na padaria ou deitar na praia são apenas outros tipos de prazer, assim como ver televisão largado no sofá. O tempo que gasto comigo mesma é o tempo que me relaciono com meus pensamentos, aproveitando cada minuto de distração. Sozinha, tenho a oportunidade de refletir (ou não) sobre o assunto que eu quiser.
Suponho que a outra explicação sobre o preconceito em relação aos que gostam de fazer as coisas sozinhos se refere à projeção de nossos próprios gostos nos outros, sobretudo em situações que julgamos negativas. Acredito que as pessoas com uma maior aversão a fazer as coisas sozinhas são aquelas que não podem suportar o enfrentamento com os próprios pensamentos.
Entretanto, saber estar sozinha é uma das melhores coisas para a alma.
Esta é uma das maiores vantagens de fazer as coisas sozinha. A outra, obviamente, é a liberdade para lidar com o tempo. Esta liberdade é a razão que faz aproveitar muito uma viagem sem companhia. Mas as pessoas podem se perguntar se não é muito solitário viajar sozinho. Bom, talvez. Um dos maiores prazeres de viajar é viver novas histórias e descobrir novas formas de arte junto com alguém. Talvez perceber que o outro vê as mesmas coisas que nós, ou se deixar convencer pelo olhar e pelas descobertas do outro. É maravilhoso ter alguém ao nosso lado para dividir um momento passageiro que jamais será recriado.
Entretanto, os fatores expostos no parágrafo anterior não me impedem de fazer as coisas sozinha. Se eu realmente quero fazer uma coisa, por que a perspectiva de fazê-la sozinha deveria ser um obstáculo? No final, a conexão que você cria com os seus objetivos é o que mais importa.
Não falo tudo isso como uma crítica às pessoas que não gostam de ficar sozinhas, ou afirmar que elas estão erradas. Cada um sabe a melhor maneira de viver a vida. Mas a satisfação está na essência da atividade e, se você prefere as coisas de um determinado jeito, vá até o fim. Por que se importar com todas as pessoas que você acha que vão te julgar? É muito provável que julguem, mas e daí?
Fazer as coisas por conta própria faz crescer o sentimento de segurança em lugares públicos e ajuda a despertar a autoconsciência. Para fazer as coisas sozinha, é necessário um pouco de autoconfiança e iniciativa, mas, no final, a sensação de orgulho é simplesmente maravilhosa.
TEXTO ORIGINAL DE INCRÍVEL CLUB