O perdão, de acordo com Webster, é “deixar de sentir ressentimento contra (um ofensor)” ou “desistir de ressentir-se ou reivindicar um pedido de perdão por um insulto”. Como verbo, é um conceito carregado, envolvendo alguns componentes principais que moldam nossa auto-imagem, como responsabilidade, caráter e moralidade. Ser instruído a perdoar, então, é ser instruído a agir de uma certa maneira, como se, ao fazê-lo, não apenas absolvíssemos o malfeitor em nossas vidas, mas também a nós mesmos.
De acordo com os conselhos populares, somos instruídos a perdoar qualquer traição para nos libertar do passado, de nossa dor e de todas as lembranças ruins. No entanto, quando nos encontramos nas trincheiras de emoções profundas e confusas derivadas de quem ou o que nos traiu, acreditando que a única absolvição possível é perdoar, abre-se um caminho perigoso: se sentimos que não podemos perdoar de todo o coração, somos preenchidos de culpa e vergonha, sentindo que há algo errado conosco por não sermos capazes de perdoar, afundando-nos ainda mais em um estado de desespero.
A verdade é que, em algumas situações, você não precisa perdoar, principalmente porque o perdão é um fenômeno psicológico complexo, envolvendo fatores situacionais e individuais. Por exemplo, de acordo com dois estudos de McCullough que exploraram perdão, vingança e outros fatores, a baixa aceitação e o neuroticismo alto foram associados à vingança, que também estava relacionada a ser menos propenso a perdoar; a se afetar mais com uma ofensa; a cultivar mais sentimentos negativos; e a ter menor satisfação com a vida. Ou seja, algumas pessoas parecem ser simplesmente mais capazes de perdoar com base em sua personalidade.
De uma perspectiva menos determinística, o perdão também pode ser baseado na situação. Um bom exemplo disso é como é mais fácil perdoar quando o verdadeiro remorso de um transgressor é mostrado. A razão pode ser evolucionária: o remorso sugere que uma pessoa reconhece seus erros. O reconhecimento em si é mera evidência de salvação: ao reconhecer cognitivamente a ação prejudicial e se desculpar por isso, o transgressor reconhece seu papel e responsabilidade por ferir outra pessoa. A crença de que o malfeitor trairia novamente é baixa, dado o reconhecimento ou a ação e a dor que eles também sofreram, sendo, portanto, improvável que não coloque apenas mais um, mas eles mesmos nessa situação novamente.
Mas e se não houver remorso demonstrado ou reconhecimento dos erros cometidos? “Perdoe-os, pois não sabem o que fizeram”, são as palavras supostamente proferidas por Jesus antes de sua crucificação. Este exemplo compassivo mostra que o perdão é possível por meio da empatia, sugerindo que se alguém não tem conhecimento das consequências de suas ações ou da dor resultante, o perdão é justificado.
O que não garante perdão, no entanto, é a verdadeira maldade: quando não há remorso, nem ignorância, mas sim uma pessoa que se satisfaz com a dor de outra pessoa, o perdão então é desnecessário.
Há necessidade de perdoar? Não, é preciso entender e aceitar e é preciso responsabilizar o malfeitor, mesmo colocando a culpa onde deveria estar em conversa com um terapeuta ou amigo; É preciso lamentar a idéia do que poderia ou deveria ter sido; é preciso amar o eu mais jovem que suportou as dificuldades; e é preciso fazer um plano para avançar.
O perdão é um fenômeno emocional e psicológico que provavelmente carrega peso evolutivo. Na maioria dos casos, o perdão é saudável, necessário e recomendado. Às vezes, no entanto, há mais poder em não perdoar. É possível seguir em frente, mas sem ignorar o mal que nos fizeram e o aprendizado adquirido.
Traduzido e adaptado por Destaques Psicologias do Brasil do original de Mariana Bockarova para o Psychology Today.
Imagem destacada: xusenru/ Pixabay.