Por Tamires Serafim
Vivemos num mundo cercado de meios e formas de compartilharmos de nossa vida, do nosso íntimo sendo curtido por centenas de pessoas, em poses e selfies a todo momento. Quem não possui uma conta numa rede social é visto como estranho, e mais estranho ainda é quem se recusa a viver no barulho da sociedade por livre escolha, por algum motivo patológico ou não, por simplesmente se sentir melhor sozinho.
Desligar-se do mundo às vezes é uma necessidade dos humanos (ou de alguns) para entrar em sintonia com os pensamentos, para um momento bastante importante na vida de cada um. Optar pela solidão, em alguns momentos da vida, não é uma atitude considerada nociva. “Os momentos de real importância na transformação ou passagem de um momento para outro ao longo da vida são precedidos por pequenos períodos de auto isolamento e esvaziamento de si”.(Lenz Dunker)
Acredito ser importante esse momento só, esse isolamento por um determinado tempo para se orientar melhor à algum momento, situação que esteja passando, para estabelecer um melhor entendimento, um auto conhecimento. Mas há um limite entre os tipos de solidão, o que delimita é o fator patológico. A solidão torna-se patológica quando vem associada a outros sentimentos, como tristeza, rejeição e sensação de abandono, quando é sentida como humilhação social, e este tipo de sensação causa temor. O isolamento social pode ser nocivo. Neste caso, o número de sua incidência pode nos levar a pensar num quadro depressivo.
Algo interessante a ser percebido na solidão, é que a mesma não se estabelece em torno de ‘eu não preciso do outro’, pelo contrário, é justamente quando damos conta de que precisamos uns dos outros, de que vivemos em sociedade, com normas, padrões e uma cultura que nos marginaliza quando saímos de um mesmo percurso comum a muitos, que a solidão surge como uma forma bastante criativa a uma reestruturação de identidade. A melhor forma de encarar a solidão, é de nos permitir a ficarmos sozinhos e não se afastar, fugir do mundo.
Outro ponto relevante nesse tempo a sós consigo mesmo, é a procura de uma resposta para ‘quem sou eu?’, ‘o que tenho feito da minha vida?’, ‘sou feliz sendo e fazendo isso?’. Parece serem perguntas bem existencialistas, e de fato são mesmo, pois estamos à busca dessas respostas de maneira camuflada ao consumo, a realização de um sonho, a esperança de conseguir um bom emprego, as escolhas feitas, um bom relacionamento com as pessoas enfim, procuramos nos equilibrar às cobranças com a nossa personalidade, com nosso modo particular de enfrentar a vida. É um ótimo momento para o uso e exploração plena do potencial da pessoa, seus talentos e capacidades, até onde podemos chegar, e também para se tornar verdadeiro, fazer-se existir de fato, não só em potencial no que se consegue fazer, mas se realmente o que tenho feito me faz bem, me realiza, se é isso que me fascina.
Naqueles dias em que não se tem vontade de conversar com ninguém, o melhor a si fazer é realmente querer desfrutar de um período de isolamento, na observação e não se culpar por está assim. Um momento para chamar de seu, seu tempo, suas ideias, seus planos e pensamentos sem a interrupção de ninguém ou de nada. Ficar em silêncio, pensar na vida, colocar as ideias em ordem, são atitudes saudáveis e muito normais.
Apesar de a solidão ter o seu lado positivo, ainda há um preconceito que só a associa a momentos de profundo abandono. A solidão é tão fortemente repudiada pelo indivíduo porque se associa aos estados de desproteção e insegurança. Entretanto, o auto isolamento é uma experiência simbólica e não uma exclusão física. Concluo ressaltando a importância de se isolar quando assim se for necessário, afinal –como diria meu amigo Marcelo – ser egoísta com nossas tristezas, consigo mesmo, é dispensar a oportunidade de poder dividir o peso de nossos ombros.
Imagem de capa: Shutterstock/Irina Kozorog
TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS