Por Jaime Rubio Hancock
Muitos filósofos, psicólogos, antropólogos e neurocientistas estão há séculos tentando encontrar as emoções básicas e universais e nos apresentando listas — as mais curtas possíveis (surpresa, desgosto, tristeza, raiva, medo e alegria, por exemplo).
A historiadora cultural Tiffany Watt Smith fez totalmente o contrário: em The Book of Human Emotions (o livro das emoções humanas) descreve 156 emoções diferentes. Seu objetivo é identificar as nuances.
Não só explica que os pintupi da Austrália Ocidental possuem 15 palavras para diferentes tipos de medo, mas também como nossa opinião sobre algumas emoções evoluiu ao longo da história e dependendo do contexto. Por exemplo, a solidão é atualmente entendida como algo particularmente negativo, mas, para os românticos, “poderia levar a experiências espirituais e emocionais transformadoras”.
Estes são 19 dos termos coletados por Smith em seu livro e que descrevem todas as emoções que sentimos, mas que, às vezes, não sabemos nomear.
1. Ambíguofobia. É um termo cunhado pelo escritor David Foster Wallace. Refere-se à sensação de desconforto ao deixar algo aberto a interpretações.
2. L’appel du vide. Expressão francesa que pode ser traduzida como “a chamada do vazio” e utilizada para falar da vontade de pular ao ver um precipício. “As pessoas falam sobre o medo de altura”, escreve Smith, “mas, na verdade, a ansiedade provocada pelos precipícios, muitas vezes, tem menos a ver com cair e mais com o terrível impulso de pular.”
3. Awumbuk. Palavra dos baining, que vivem em Papua-Nova Guiné, e com a qual se descreve a sensação de vazio deixada pelas visitas quando vão embora. “As paredes fazem eco”, ilustra Smith. “O espaço que estava tão cheio agora parece estranhamente amplo. E, embora muitas vezes haja alívio, também ficamos com uma sensação de desânimo: como se uma névoa houvesse descido.”
4. Basorexia. A súbita vontade de beijar alguém.
5. Cibercondria. “A ansiedade sobre ‘sintomas’ de uma ‘doença’ alimentada depois de ‘pesquisar’ na Internet.” As aspas são da autora. Um neologismo já popularizado na rede.
6. Dépaysement. Palavra francesa que reflete a “desorientação que sentimos em lugares estrangeiros”. Ilustra os esforços para decifrar uma idioma estranho e calcular quanto vale o punhado de moedas que levamos no bolso. Trata-se de uma sensação, por vezes, frustrante, “que nos deixa desconfortáveis e fora de lugar”. Mas também faz com que “o mundo pareça novo outra vez”.
7. Dolce far niente. O prazer de não fazer nada.
8. Fago. É a pena que sentimos por alguém que precisa de ajuda e com quem nos preocupamos, sem deixar de ter em mente a ideia de que um dia perderemos a pessoa. Esse termo, usado pelos ifaluk, das Ilhas Carolinas do Pacífico, remete à sensação que “aparece naqueles momentos em que sentimos de forma tão esmagadora nosso amor pelos outros, sua dependência em relação a nós e o fato de que a vida é temporária e frágil, que enchem nossos olhos de lágrimas”.
9. Going Postal. Entre 1986 e 1997, vários funcionários dos Correios nos Estados Unidos mataram colegas e chefes a tiros. Foram 40 vítimas em cerca de 20 ataques. A expressão going postal descreve desde então os ataques de ira e raiva no local de trabalho.
10. Greng jai. Na Tailândia, é “o sentimento de não querer aceitar uma oferta de ajuda devido ao inconveniente que causaríamos”.
11. Han. Em coreano, é uma aceitação coletiva do sofrimento combinada com um desejo silencioso de que as coisas mudem. Uma mistura, segundo a escritora coreana Park Kyung-ni, de tristeza e esperança.
12. Ijirashii. É a sensação de se emocionar ao ver como alguém supera um obstáculo ou faz algo digno de elogio. Essa palavra japonesa identifica “o sentimento que podemos ter quando vemos um atleta alcançar o objetivo final contra todas as probabilidades ou ouvir que um morador de rua devolveu a carteira perdida ao dono”, escreve Smith.
13. Kaukokaipuu. Desejo de viajar (em finlandês). Às vezes, é traduzida por um outro termo alemão parecido: Wanderlust.
14. Mono no aware. Expressão japonesa que faz referência à contemplação de uma beleza que sabemos ser passageira. Smith escreve que esse conceito reúne a “pena e serenidade que sentimos quando reconhecemos a inevitabilidade da mudança; a tristeza que antecipa as perdas que virão; e o brilho acrescentado aos prazeres, porque sabemos que têm de terminar”. O conceito tem raízes no zen-budismo e está intimamente relacionado com o wabi-sabi, um termo estético japonês que se refere à beleza encontrada nas coisas inacabadas ou imperfeitas, como no caso de uma tigela de porcelana trincada.
15. Nakhes. Em iídiche, é o orgulho que os pais sentem por qualquer pequena conquista dos filhos.
16. Nginyiwarrarringu. Para os pintupi, que vivem no deserto da Austrália Ocidental, existem 15 tipos diferentes de medo. Smith menciona o ngulu, que é o medo que sentimos quando alguém procura a vingança; kamarrarringu, a sensação de que alguém está atrás de você; kanarunvyju, o medo de espíritos malignos que não lhe permitem dormir; e nginyiwarrarringu, o instinto de alerta que faz você se levantar e olhar ao redor para saber o que causou o ruído.
17. Oime. O intenso desconforto de estar em dívida com alguém. É um termo japonês.
18. Pronoia. A estranha sensação de que todo mundo quer ajudar. De fato, é o oposto da paranoia.
19. Ringxiety. Termo cunhado pelo psicólogo David Laramie e que poderia ser traduzido (talvez) por “ansiedade do telefone tocando”. Define esse momento de “ansiedade de baixo nível que nos leva a pensar que nossos telefones estavam tocando, mas que não aconteceu”. Uma pena que a referência ao som não sirva para as vibrações-fantasma do celular que, segundo vários estudos, 70% a 90% da população já sentiu.
TEXTO ORIGINAL DE EL PAÍS
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