Lidar com as emoções parece ser um problema para o homem. Dessa forma, buscamos nos esconder atrás de máscaras e de personagens, a fim de que as nossas emoções reais não sejam conhecidas pelo outro, assim como preferimos lidar com pessoas que se comportam da mesma maneira, uma vez que construir uma relação verdadeira com o outro traz riscos que nem sempre estamos dispostos a correr.
As redes sociais virtuais potencializaram essas pseudo-relações que possuímos. Na rede, as pessoas sempre estão alegres e felizes, entusiasmadas com a vida e cheias de disposição. Por trás das telas, todavia, escondem seus medos, suas dores, suas angústias e sua solidão, com o desejo de manterem-se interessantes perante os olhares virtuais. Criam-se, assim, verdadeiras ilhas afetivas e pessoas incapazes de lidar com as frustrações que os relacionamentos podem trazer.
Esse problema é apresentado no filme “Her”, em que o protagonista Theodore, sentindo-se solitário após o seu divórcio, desenvolve um relacionamento com um sistema operacional. Este, apesar de certa autonomia, apresenta-se sempre de forma bem humorada e, como o próprio Theodore diz, “entusiasmada com a vida”.
A realidade disposta no filme demonstra, com clareza, o modo de vida contemporâneo. Criamos relações fictícias com um sem número de pessoas, as quais sempre se mostram felizes e “entusiasmadas com a vida”, do mesmo modo que, evidentemente, nós mostramos, o que faz com que a relação seja atraente. Ou seja, busco relações que não me tragam problemas ou dores de cabeça e, como estas não existem na vida real, busco-as por meio da rede.
O grande problema é que relacionar-se com outra pessoa vai muito além de sorrisos e de experiências boas, de modo que as relações construídas sob o pilar da facilidade tendem, indubitavelmente, a sucumbir e a deixar o indivíduo ainda mais solitário, como também a aumentar a sua incapacidade de lidar com emoções reais.
No entanto, a única forma de construir uma relação verdadeira é estando disposto a lidar com as emoções e sentimentos que formam o outro, isto é, suas alegrias, seus sonhos, suas conquistas, bem como suas dores, seus medos e suas derrotas. Somente quando consigo sentir o outro naquilo que este possui de mais vivo (e ninguém é formado só de alegrias), posso conectar-me de fato.
Ter uma relação em que o outro sempre me diz o que quero ouvir, sempre está contente e parece não ter problemas, demonstra, tão somente, o egoísmo de um indivíduo que se preocupa apenas em receber algo da relação. Entretanto, devo estar disposto a doar-me ao outro nas suas alegrias, para que se possa rir junto, como nas suas tristezas, para que se possa consolar, dar um abraço, uma palavra amiga e um beijo sincero. Devo, também, entender que o outro tem sua subjetividade e, portanto, terá um olhar próprio sobre a vida, o qual nem sempre corresponderá ao meu.
Desse modo, qualquer relação requer paciência e esforço mútuos. Isolar-se atrás de uma tela só garante mais isolamento, solidão e tristeza. É preciso estar disposto a viver emoções reais, com pessoas reais, que riem, mas também choram, para que se possa crescer e aprender a lidar com os próprios sentimentos. Sempre haverá o risco de alguém sair magoado, ou de se decepcionar, pois as pessoas não vêm com garantia de uso.
No entanto, não há outro caminho. Somente com o tempo vamos amadurecendo e aprendendo com os erros. Vamos descobrindo mais sobre nós mesmos e sobre a vida. E, para isso, é preciso viver, arriscar e aceitar os tombos que a vida dá. As relações virtuais, como a de Theodore, no filme, podem ser até “bonitas”, mas nada substitui um sentimento sincero, pois, como diz Clarice:
“O bonito me encanta. Mas o sincero, ah! Esse me fascina.”
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