Os consultórios psicológicos testemunham o grito às vezes mudo de pessoas que se queixam da solidão, do desamparo, da intolerância ou sofrem com a indiferença.

Pessoas que precisam enfrentar desconfortos emocionais de diferentes origens. Mas, se pudéssemos englobar as causas identificadas para tais males, veríamos que a frustração e a tristeza, instaladas pela falta de validação emocional e reciprocidade nos relacionamentos, ganhariam destaque.

E quando os terapeutas conhecem a realidade desses pacientes, percebem que são ambientes com atmosfera afetiva opaca, definida pela incomunicabilidade, pelo distanciamento emocional e, não raro, minada por hostilidade mútua ou unilateral.

E essa realidade não é restrita aos consultórios. As redes sociais, por exemplo, exibem fotos sorridentes e poses triunfais que muitas vezes mascaram carências de quem mostra a versão idealizada de si, esperando comentários ou likes validadores do seu ego.

E por que é tão valioso ser emocionalmente validado?

A validação afetiva é o termômetro que indica quanto somos estimados, quanto valemos em apreço e consideração. Moedas que mantêm o câmbio social e têm impacto primordial na autoestima.

E se há um elemento fundante da validação afetiva é o carinho. Visto como um ato comum de troca de afeto, esse elemento da vida emocional é subavaliado como fator de peso na cura de pessoas e relações.

O ato carinhoso abrange expressões de afago, desvelo e apreço pelo outro. Tem forte valência psicológica: é fonte de validação humana; catalisador de trocas afetivas; tem caráter mobilizador da simpatia recíproca; é apoio na cura emocional; gera confiança e disposição de entrega em quem o dá e o recebe.
Ser acarinhado é desejo primário do ser humano. A própria etimologia latina da palavra, significando carência e desejo, explicita a razão pela qual, o carinho tem peso na constituição psicológica.

Por tudo isso, chama a atenção que, após milênios de história, e sendo fonte primária de afetividade, o carinho ainda seja visto apenas como toque casual, afago fortuito ou como ato restrito às carícias nas relações íntimas.

O acarinhar humano é gesto amplo. Utiliza inumeráveis formas e veículos para ir amorosamente na direção do outro.

É certo que o carinho presencial ao alcance da mão é a sua forma mais visível. E é inegável o valor afetivo do apoio físico à mão trêmula, do suporte ao corpo frágil, do alimento que chega à boca faminta ou dos incontáveis gestos que pacificam a dor e minimizam o sofrimento.

Mas a iniciativa carinhosa tem outros caminhos. Pode se manifestar na escuta genuína; no olhar terno; no apoio na hora do luto; na busca do diálogo; na ajuda propícia; no silêncio acolhedor; no ceder para equilibrar o uso do poder; no compartilhar espaço; na hospitalidade desprendida; na presença calorosa; na despedida cuidadosa; no interesse genuíno; no respeito incondicional; no alegrar-se com a alegria do outro; na gentileza no convívio rotineiro; na compreensão empática.

Enfim, o carinho alcança todas as transações humanas. É revigorante emocional que cria e fortalece laços. É o veículo que dá trânsito ao amor, ao respeito e nos reafirma como agentes de saúde da humanidade.

Foto de freestocks.org no Unsplash

Liduína Benigno Xavier

Psicóloga, Mestre em Educação, formação em Facilitação de Processos humanos nas organizações, a escritora é consultora organizacional há mais de vinte e cinco anos; É autora do livro: Itinerários da Educação no Banco do Brasil e Co-autora do livro: Didática do Ensino Corporativo - O ensino nas organizações. Mantém o site: BlogdoTriunfo que publica textos autorais voltados ao aperfeiçoamento pessoal dos leitores e propõe reflexões que ajudam o leitor a formar visão mais rica de inquietações impactantes da existência.

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