Marcel Camargo

O amor deles não estava estampado nas vitrines, mas dentro de seus corações

 Ninguém sabia o quanto eles eram cúmplices, parceiros, fiéis um ao outro, respeitando-se com afeição mútua e sincera. Conheciam-se como ninguém e sabiam exatamente do que o outro precisava, pois se doavam com inteireza, enxergando-se com os olhos do parceiro. Ninguém podia imaginar, mas eles tinham certeza.

Ninguém sabia o quanto haviam batalhado um pelo outro, na esperança de que ficassem juntos, apesar de tudo, a despeito de todos. Desde o início, dispuseram-se a se despir de quaisquer amarras, tornando-se livres e libertos de entraves carregados de orgulho e de incompreensão. Despiam-se, além das roupas, fundo na alma. Ninguém podia imaginar, mas eles tinham certeza.

Ninguém sabia da capacidade de entrega a que se dispunham, o quanto lutavam para entender, compreender e aceitar o outro, naquilo que ele tinha de bom e de ruim, pois visavam ao encontro do fim de noite, em que a escuridão abafa as falhas e eleva o contato, a aproximação, a fusão mágica das almas em comunhão. Ninguém podia imaginar, mas eles tinham certeza.

Ninguém sabia que choravam, decepcionavam-se, amargavam a dor da quebra de expectativas, do afogamento das promessas, do silêncio que dilacera. Desciam juntos ao fundo do poço, para então recobrar os sentidos e reforçarem a intensidade da imensidão a que se alargava sua paixão, como que se necessário sorverem as delícias da bonança que ressuscitava o amor em meio à tempestade que se ia. Ninguém podia imaginar, mas eles tinham certeza.

Ninguém sabia que eles também tinham medo de se perderem um do outro, de que a dureza fria da rotina diária imprimisse o afastamento entre suas vidas. Mas lutavam, eram verdadeiros guerreiros, quando se tratava de resguardar a pureza do amor transbordante de que se alimentavam. Sempre voltavam um para o outro. Viciaram-se um no outro, da pior e da melhor forma possível. Ninguém podia imaginar, mas eles tinham certeza.

Ninguém podia imaginar, porque não se preocupavam com o que os outros achavam, tampouco inundavam as redes sociais de fotos ou declarações, ocupados que estavam em serem par, serem seus, serem o que vinha de dentro de si mesmos, serem um do outro. Ninguém imaginaria, mas nem precisava, pois eles tinham certeza.

Imagem de capa: VAKSMAN VOLODYMYR/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

Recent Posts

Veja esta série na Netflix e ela não sairá mais da sua mente

Esta série que acumula mais de 30 indicações em premiações como Emmy e Globo de…

2 dias ago

Filme premiado em Cannes que fez público deixar as salas de cinema aos prantos estreia na Netflix

Vencedor do Grande Prêmio na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024 e um…

2 dias ago

Série ousada e provocante da Netflix vai te viciar um pouco mais a cada episódio

É impossível resistir aos encantos dessa série quentíssima que não pára de atrair novos espectadores…

3 dias ago

Influenciadora com doença rara que se tornou símbolo de resistência falece aos 19 anos

A influenciadora digital Beandri Booysen, conhecida por sua coragem e dedicação à conscientização sobre a…

3 dias ago

Tatá precisou de auxílio médico e passou noites sem dormir após acusação de assédio, diz colunista

"Ela ficou apavorada e disse que a dor de ser acusada injustamente é algo inimaginável",…

4 dias ago

Suspense psicológico fenomenal que acaba de estrear na Netflix vai “explodir sua mente”

Será que você é capaz de montar o complexo quebra-cabeça psicológico deste filme?

4 dias ago