É cada vez mais raro encontrarmos relacionamentos duradouros, parecendo que nada mais resiste ao tempo, sejam os objetos, sejam os sentimentos. Nessa era dos amores líquidos, dos quinze minutos de fama, das amizades superficiais e das aproximações interesseiras, perdem-se as reais chances de se demorarem os sentimentos nobres dentro de cada um e, assim, todos perdemos.
A capacidade de amar e de ser amado acaba se juntando a esse pacote de elementos de pouca duração, ao ponto de a afetividade ser impregnada de prazos ínfimos de validade. A carreira, os estudos, a aquisição de bens, a realização profissional, as viagens internacionais, a caderneta de poupança, tudo é colocado na frente do amor, da construção afetiva junto a alguém com quem compartilhar alegrias e tristezas.
Muitos de nós fugimos ao encontro com o outro, por medo de que assim iremos estacionar nossa jornada e seremos impedidos de alçar voos mais altos. Achamos que estar comprometido implica a estagnação de nossa vida, como se o parceiro nos fosse tolher a realização de muitos sonhos de vida. Entretanto, esse tipo de pensamento restringe as infinitas dimensões em que o amor na verdade se expande.
O amor não restringe nada nem ninguém, não diminui, tampouco corta asas. Quem ama com verdade se importa e se dedica, enxerga e percebe o parceiro como alguém que sonha, ajudando-o nessa busca da felicidade, pois quer estar junto nesse destino. E, quando não há perda de dignidade, deixa o outro viver a vida, pois sabe que somente assim terá de volta as mesmas condições, que são essenciais para ambos se protegerem do desgaste, do descaso, do distanciamento, da solidão acompanhada.
Não existe o que não possa ser superado, em qualquer relacionamento, caso ainda haja sentimento verdadeiro entre as partes, caso não se tenha ferido a ética e a integridade do outro, caso exista arrependimento sincero, vontade, força de vontade e uma história verdadeira construída nesse percurso. O que destrói o amor não são os erros, mas sim deixar de assumir a responsabilidade sobre o que está ruindo.
Porque o amor necessita de cuidados, de atenção, de adubo afetivo e de certezas demonstradas, mesmo que em pequenos gestos, singelas delicadezas. Porque o amor sempre haverá de ser mais forte do que a melhor das desculpas.