“Não adianta ter o corpo perfeito e uma linda coreografia, se o músculo mais importante de todos está partido.”

Assistindo a reportagem sobre Isadora Marie Williams no Esporte Espetacular, quadro “Mulheres Espetaculares” (04/01/2015), fiquei emocionada ao ver a rotina de treinos da patinadora de 18 anos mudar drasticamente após ela começar a sofrer pelo término do namoro e como ela ganhou a alegria e a leveza para treinar bem novamente após perceber a presença daquele que possui todos os encantos da vida dela: “o namorado”. Eles reataram, e Isadora voltou a fazer o que ela sabe fazer melhor, patinar, patinar, patinar e ir além dos seus limites.¹

É incrível como o “amor” transforma a vida das pessoas e é triste como a “perda” da pessoa amada consome toda energia, paz, alegria e vontade de viver. É triste, mas natural e necessário ao processo humano de viver.

Trabalhando há um tempo com o tema “as cinco fases do luto”, discutido por Elisabeth Kübler Ross no seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, foi impossível não comparar os sofrimentos dos lutos que passamos na vida com o “luto” pelo fim de um relacionamento. Sim, o fim de um relacionamento também é um luto – sem aspas.

As cinco fases do luto são: Negação, Raiva/Revolta, Barganha, Depressão e Aceitação. Segundo Kübler Ross, não é uma ordem em si. As pessoas podem passar por todas as fases ou não, mas necessariamente passarão por pelo menos duas destas fases, sendo que a depressão é essencialmente importante para se chegar à aceitação.²

Saber isso é de extrema importância para entender e aceitar o sofrimento alheio. Olhar para dor do outro e compreender que essa fase se faz necessária para a superação da “perda”.

Nós pensamos a vida. Imaginamos o futuro. Fazemos planos e sonhamos muitas coisas. Quando conhecemos alguém que nos faz apaixonar, tudo isso fica muito mais enfatizado/intensificado. Passamos a construir mentalmente possibilidades e histórias que podem ou não chegar a se concretizar. Imaginar um futuro longínquo ao lado da pessoa amada é o que nos faz ter garra para lutar contra todas as barreiras que a vida nos impõe. Ganhamos força para superar obstáculos, desafios, limites. É como se a vida ficasse mais leve e algo soprasse em nossos ouvidos diariamente dizendo “vale a pena”.

Nós somos seres dependentes. Não nascemos para viver sozinhos. Nossa criação é própria da vida conjunta. Então é natural que vivamos a buscar nossa “cara-metade”, aquela capaz de transformar nossas vidas e realizar nossos mais tenros desejos da vida a dois. Poesia à parte, é impossível falar de amor sem falar em sofrimento. Ao menos uma vez na vida, todos, sem exceção, irão passar pelo amargo da despedida, da tristeza do adeus ou da indiferença do outro ao nosso amor.

E quando todo esse sonho se desfaz como um castelo de areia construído na beira do mar, não se tem tempo de preparar o terreno para a grande onda que porá um fim a todas as expectativas de “ser feliz para sempre” ao lado daquela pessoa. E como dói esse momento. Toda energia desprendida, todo investimento feito parecem esvair-se pelo ralo. Há uma confusão de sentimentos, uma mistura de frustração, dor e raiva. Deve-se compreender que neste momento o sofrimento se fará necessário para que toda a dor da perda seja superada.

Julgar o sofrimento alheio pela forma como você lidaria é um erro muito comum de quem está de fora. É preciso compreender que cada um tem uma forma particular de lidar com o fim, e isso é influenciado por outros fatores como: os motivos que levaram ao término, as justificativas do outro, o apoio da rede familiar e amigos, a personalidade da pessoa, e sua história de vida (como lida com as frustrações, por exemplo).

Respeitar a dor do outro e o seu tempo é fundamental. Qualquer palavra proferida neste momento pode não surtir o efeito esperado. O ideal mesmo é oferecer colo, ombro e risos – ainda que curtos e rasos. Coincidentemente, li um texto ontem da Martha Medeiros onde ela cita que “tocar na dor do outro exige delicadeza”, e ela tem razão. Lidar com a dor do outro exige de nós calma, alma e amor. Não se aproxime de alguém em sofrimento se não estiver disposto a oferecer ao menos isto.

Se tudo correr bem, espera-se que os sentimentos de perda, inquietude, baixa autoestima e depressão, vão aos poucos dando espaço à paz, à tranquilidade e à vontade de viver novamente. Com o tempo, os pensamentos entram em ordem, e a aceitação pelo fim do relacionamento enfim completa o ciclo, abrindo a vida para novas oportunidades. O olhar começa a enxergar outros olhares, e o coração se prepara para a possibilidade de um novo amor, uma nova história e quiçá um novo sofrer.

Por fim meus amigos, não se esqueçam da seguinte verdade: “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente” (William Shakespeare).

Links de apoio:

1 –  http://globotv.globo.com/rede-globo/olimpiadas/v/mulheres-espetaculares-conheca-isadora-williams-unica-patinadora-olimpica-do-brasil/3870976/

2 – http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_de_K%C3%BCbler-Ross

Aurea Maria Montanholli

Formada em psicologia tenho uma paixão enorme pela área da saúde, em especial, o trabalho com mães e filhos. Mas confesso que todo trabalho de transformação do ser humano me brilha aos olhos. Até por isso, costumo brincar que não escolhi a psicologia, ela me escolheu. Atualmente trabalho na clínica, mas já estive por 11 anos dentro de empresas na área de RH e Gestão de Pessoas. Escrevo como hobby e forma de expressar meus próprios sentimentos, pois quem sabe minhas ideias não encontre tantas outras ideias perdidas por aí.

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