É tão bom amar e ser correspondido, tendo a certeza de que a afetividade vai e volta na mesma medida, com intensidade e transparência. Amor sempre deve ser uma via de mão dupla, pois é exatamente a reciprocidade que reveste a afetividade nele contida mais forte e transformadora. E, caso esse sentimento não esteja encontrando terreno que retorne o que ali chega, sempre haverá alguém sofrendo e agindo para nada. Amor não pode ser à toa, pois amor se esvazia de carga e de sentido sem troca.
Talvez por termos esperança de que o outro mude, de que a nossa verdade possa afetá-lo positivamente, clareando-lhe os passos, muitas vezes acabamos insistindo, amando, doando, fazendo e tentando, e tentando, à espera de um retorno sincero – que não vem, não aparece, não nos chega de volta. E então começamos a extrapolar os limites saudáveis de nosso bem estar, deixando de lado o nosso eu, na vã tentativa de manter o que jamais foi nem nunca será.
Nesse caminho de luta contra o que já morreu ou nem começou, nós nos distanciamos de nós mesmos, anulando-nos, apagando de dentro de nós tudo aquilo com que sempre sonhamos e do que nunca deveríamos largar mão. Desistir do que temos de nosso é desistir de viver, de ser feliz. Com isso, muito provavelmente entraremos no terreno nebuloso da humilhação e da servidão, até nos transformarmos em fantoches nas mãos de quem nos usará como lhe convier.
Em nome do que erroneamente julgamos ser amor, muitas vezes passamos a fazer papel de trouxa, pois, então, todo mundo, menos nós mesmos, perceberá o quanto estamos sendo manipulados e reduzidos pelo parceiro. E todo o peso do sentimento não correspondido recairá sobre nossas costas, pois o outro não se importa, não se enxerga, não nos enxerga, apenas mantém um conveniente relacionamento em que manda e desmanda.
Desistir de alguém que amamos será sempre uma das atitudes mais difíceis que enfrentaremos no decorrer de nossas vidas, visto que isso equivale a tomar consciência de que uma significativa parte de nossos sonhos desmoronou. Por isso a necessidade de nos mantermos inteiros enquanto construímos um relacionamento, pois é assim que poderemos desistir de quem já desistiu de nós, sem que nada nos reste. Caso tenhamos entregue tudo ao outro, sem nos preservar, não teremos nada em que nos apoiar durante o rompimento, pois já quase nada seremos sozinhos.
Amemos com intensidade e inteireza, honestidade e completude, mas não nos esqueçamos de nós mesmos nesse percurso, pois dependeremos sempre do que temos dentro de nós, toda vez que a vida disser não. E ela costuma dizê-lo, quando menos esperamos.