A tendência das crianças pequenas é satisfazer seus desejos imediatamente. Segundo Vigotski (1998), “[…] normalmente, o intervalo entre um desejo e a sua satisfação é extremamente curto”. No entanto, na idade pré-escolar, estas surgem em grande quantidade que se torna impossível serem realizadas de imediato, assim, a criança muda seu comportamento e para resolver essa tensão envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo.
Pode-se dizer que a imaginação nas crianças, bem como nos adolescentes, é o brinquedo em ação, controlados por motivações diferentes de acordo com seu desenvolvimento. O jogo com regras desenvolve-se durante a idade escolar, levando em conta que a situação imaginária já contém regras de comportamento, por exemplo, quando uma criança representa o papel de mãe, obedecendo desse modo, regras de comportamento maternal. Sendo assim, o que na vida real passa despercebido pela criança torna-se uma regra de comportamento no brinquedo.
Através da brincadeira, as crianças constroem a experiência de se relacionar com o mundo de maneira ativa e vivencia experiências de tomada de decisões. Quando a criança escolhe brincar ou não, é uma característica importante que possibilita o desenvolvimento da autonomia, criatividade e responsabilidade quanto as suas próprias opiniões.
No brinquedo a criança aprende a agir numa esfera cognitiva dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos. A percepção da criança não é um aspecto independente, mas integrado de uma reação motora, no brinquedo os objetos perdem sua força determinadora, onde a criança vê um objeto e age de maneira diferente em relação aquilo que vê.
Arminda Aberastury é pioneira da psicanálise infantil na América Latina. Fundamenta em seu trabalho e estudos ligados a Psicanálise, em compreender a mente da criança, percebendo diversas etapas da atividade lúdica. Relaciona o desenvolvimento normal da criança a um modo específico do brincar, e que este não brincar no período certo, causa perturbações e prejuízos ao desenvolvimento infantil. Em situações de perturbação, principalmente no primeiro ano de vida, a organização da vida familiar ligada a uma mudança na rotina das atividades de vida diária, envolve uma orientação nas atividades do brincar e permitem uma melhora de sintomas e reestruturação da criança.
O brinquedo possui muitas das características dos objetos da vida real, em tamanho miniaturizado. E a criança, pelo poder conferido pelos adultos, como algo seu e permitido, tem sobre eles domínio, utilizando-os em situações difíceis, traumáticas como instrumentos de representação dos objetos reais. Outra característica do brinquedo é que este é substituível, gerando a possibilidade de que a criança o repita, tantas vezes, quanto necessitar para reproduzir cenas da vida real, sejam elas prazerosas ou traumáticas, situações que não pode na vida real reproduzir. ABERASTURY (1992 p.16).
Ao brincar, a criança desloca para o exterior os seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os por meio da ação. Repete no brinquedo todas as situações excessivas para o seu ego e isto lhe permite modificar um final que lhe foi penoso, tolerar papéis e situações que seriam proibidas na vida real.
Em situações traumáticas, o ato de brincar repetidas vezes, vivenciando a situação, está relacionado à capacidade do psiquismo individual a “compulsão à repetição”, que impulsiona o indivíduo a reproduzir situações que não foram elaboradas, trazendo-as à consciência. Esta situação apresenta a característica da situação ser revivida sem angústia e sem culpa, pois não está sendo descarregada em objetos reais que ela domina.
Usando o mecanismo da identificação projetiva, as crianças fazem transferências positivas e negativas para os objetos conforme estes aliviem sua ansiedade. Através das personificações no brinquedo, observa-se como o objeto pode modificar-se com rapidez, de bom para mau, de aliado para inimigo. Por isso, o brinquedo infantil, quando normal, progride constantemente para identificações cada vez mais aproximadas da realidade.
Ao brincar, a criança não se situa apenas no momento presente, mas, também no seu passado e no seu futuro. Para Freud o brinquedo e o brincar são os melhores representantes psíquicos dos processos interiores da criança. Eles estão em significação, na busca do sentido dos atos da criança.
Podemos dizer que todos os adultos, com maior ou menor intensidade, acreditam que as crianças não vivem sem seus brinquedos. Muitos estudiosos defendem a ideia de que a criança brinca porque gosta de brincar, e quando isso não acontece, alguma coisa não está bem com ela. Enquanto uns dizem que a criança brinca por prazer, outros dizem que ela brinca para dominar angústias ou dar vazão à agressividade.
A psicoterapia infantil fornece suporte para que a criança aprenda a lidar com suas emoções, sentimentos e pensamentos, com o objetivo de ajudá-la a tomar consciência de si mesma e de sua existência no mundo. Auxiliando a criança e aos pais no momento em que algo não está bem em seu desenvolvimento emocional ou social.
BIBLIOGRAFIA INDICADA:
ABERASTURY, Arminda. A criança e seus Jogos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6a edição – São Paulo: Martins fontes, 1998.
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