Por Flávio Gikovate
O casamento é uma sociedade civil que pode ser constituída como consequência de um encontro amoroso. Não foi sempre assim e não creio que venha a ser forçosamente assim no futuro.
Acredito que será crescente o número de casais que estabelecerão elos amorosos que não se encaminharão na direção da sociedade conjugal. O principal objetivo destes vínculos afetivos será o usufruto dos prazeres do convívio intelectual, afetivo e sexual. O casamento será uma das opções e não mais a meta ansiada por todos e o coroamento do amor.
O casamento acontecerá apenas naqueles casos em que as razões de ordem prática e os projetos de vida em comum justificarem o estabelecimento do elo societário. Na medida em que o casamento ganha vida própria veremos se desfazer o condicionamento que ainda hoje nos governa segundo o qual o amor parece que “pede” o casamento, sendo sua consumação a máxima prova de amor entre duas pessoas.
O casamento deixou de ser uma necessidade uma vez que nem todas as pessoas desejam ter filhos e a tradicional divisão de trabalho entre os sexos desapareceu. Hoje podemos compreender que nem todos os encontros amorosos contêm os ingredientes necessários para uma vida em comum de natureza societária que seja gratificante e próspera. Apenas como exemplo, pessoas previamente casadas e com filhos ainda pequenos podem preferir namorar e não coabitar com seus novos amados uma vez que o convívio dos filhos dos primeiros casamentos pode ser importante gerador de tensões que podem ser evitadas.
Os avanços tecnológicos e o progresso da ciência nos tem permitido compreender que amor e casamento não são a mesma coisa. O casamento deixa de ser necessário e deixa de ser a meta de vida de muitos homens e mesmo de muitas mulheres – historicamente mais voltadas para o matrimônio.
O próprio amor está vivendo um período de mudanças fundamentais, uma vez que estamos assistindo o fim do amor romântico, aquele que anseia pela fusão de duas metades que deverão se completar. O anseio amoroso que está nascendo parte do princípio de que somos Unidades que apenas queremos nos aproximar e “curtir” uma outra criatura com a qual tenhamos afinidades intelectuais e físicas. Dentro desta nova visão do amor é claro que o casamento se torna uma das opções e não a finalidade inexorável de todo relacionamento amoroso.
Imagem de capa: Shutterstock/Rido
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