A psicoterapia é um serviço de saúde.
Para oferecer este serviço é necessário ao psicólogo arcar com muitas coisas: anuidade do CRP, aluguel do espaço,impostos, despesas variáveis (desde contas de água, energia, telefone até bebedouro de água, cafezinho, balas, produtos de higiene e limpeza, impressões de documentos, compra de testes, etc.), ou seja, tudo aquilo que envolve possibilitar um lugar de acolhimento, escuta e conforto para o paciente.
Considerando, ainda, as horas de estudos e a supervisão do psicólogo, as leituras e estudos de caso, o tempo dispendido para corrigir testes e elaborar as atividades, entre outras coisas.
Mas, além de mensurar todo o seu preparo e a qualidade dos seus serviços, o psicólogo deve considerar quanto verdadeiramente custa para o paciente fazer psicoterapia.
É disso que vamos falar agora.
Para a Psicanálise o custo de uma sessão possui um valor simbólico para o paciente. Sim, é isso mesmo! Falar de dinheiro remete à questões inconscientes e implica em significados singulares construídos por cada sujeito.
O significado do dinheiro deverá ser visto como objeto de discussão na relação terapêutica estabelecida entre analista e paciente, uma vez que o pagamento é crucial para a efetividade da psicoterapia.
Diferente de um produto ou bem material que você leva para casa, na psicoterapia psicanalítica o que o paciente compra é um saber maior sobre si mesmo.
Podemos pensar que, na verdade, a “dívida” do paciente não é com o analista, é com ele mesmo. Trata-se de estar em débito com sua própria vida, de sentir culpa por não ser quem se deseja ser.
Chamamos de culpa o sentimento percebido após reavaliar uma atitude ou comportamento e considera-lo reprovável.
Durante a análise a culpa está sempre presente, seja pelo fato de o paciente sentir que está agredindo a si mesmo ou ferindo ao outro de algum modo.
Pagar a dívida consigo mesmo seria equivalente a livrar-se da culpa e ser reconhecido pelo outro.
Contudo, o simples fato de pagar a terapia não salda a dívida. Aí então que existe um outro custo: a responsabilidade do paciente dentro de sua queixa.
A responsabilidade tem a ver com o quanto o paciente está disposto a assumir-se, a quebrar ciclos de repetições e a reinventar-se, após conseguir uma maior compreensão de si mesmo. E esta decisão e responsabilidade é só dele.
O custo da sessão precisa, necessariamente, afetar o paciente. Precisa fazer com que ele se desloque, se comprometa.
Por tudo isso, o psicólogo de abordagem psicanalítica não deixará de atender ao paciente se ele não puder financeiramente pagar o valor cheio da sessão, mas estiver disposto a pagar aquilo que lhe cabe.
Mais do que investir dinheiro, o paciente investe sua motivação pessoal na psicoterapia.
Assim, é preciso que o paciente questione-se a si mesmo sobre o quanto ele está disposto a investir em um tratamento que dê conta do seu sofrimento psíquico.
Diante de tantos gastos desnecessários que são cometidos por impulso na nossa sociedade capitalista e, considerando que tudo fica obsoleto em pouco tempo, podemos pensar que a psicoterapia é um investimento para a vida inteira.
Vale lembrar que a posição do analista não é de compaixão, não é de caridade. É uma posição ética, de questionar o sujeito do inconsciente e permitir a ele tomá-lo como causa de seu desejo.
Portanto, o custo pago pelos serviços terapêuticos trata-se de um valor de troca, pelo qual o paciente sustenta o “pacto” analítico e existe para contribuir que o paciente não espere outra coisa do analista, senão o verdadeiro papel para o qual ele está designado: tornar consciente o inconsciente.
Por fim, ao término da análise o paciente levará consigo somente o que é dele próprio: a responsabilidade pela sua existência.
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