Uma das criações mais recentes da Netflix é o filme “O mínimo para se viver”, que retrata a realidade dramática de Ellen, uma jovem de 20 anos que busca tratamento para seu transtorno alimentar. A personagem é interpretada pela atriz Lilly Collins, que sofreu de anorexia e, hoje, afirma estar recuperada.
A trama chama atenção para questões importantes e delicadas sobre os transtornos alimentares, que costumam não receber a devida atenção ou serem tratadas com a seriedade que exige a gravidade do problema. É preciso lembrar que ainda há pessoas que consideram o transtorno alimentar como algo passageiro, associado a padrões estéticos.
Apesar de bem intencionado, o filme vem dividindo as opiniões dos especialistas, especialmente porque pode ter um impacto negativo nas pessoas que estão em recuperação de um transtorno alimentar. Falam da possibilidade de encontrar nos detalhes da rotina da protagonista elementos que sirvam para continuar alimentando o transtorno, mais do que para romper o ciclo.
Sem entrar no mérito dessa discussão, aproveitamos a divulgação do filme para destacar 10 fatos sobre os transtornos alimentares que devem ser considerados, por sua gravidade. Confira!
(Alerta de spoiler)
Por frequentemente estarem associados a questões estéticas de vaidade, a maioria das pessoas acreditam que os transtornos alimentares se restringem ao sexo feminino. Isso não é verdade. O transtorno é três vezes mais frequente em mulheres do que em homens, sinalizando que em menor proporção homens também podem sofrer de transtornos alimentares.
Na trama, um dos pacientes é do sexo masculino, alertando sobre a conscientização do tratamento aos homens, que podem desenvolver o transtorno com a mesma gravidade.
Outra questão que costuma passar despercebida, mas que o filme retrata com bastante seriedade, é o fato de os transtornos alimentares não se restringirem a indução de vômitos ou uso de diuréticos e laxantes. Neles, ocorre a busca por comportamentos que possam impedir o ganho de peso. Nesse caso, exercícios físicos em excesso também são um gatilho para queima de calorias.
Por serem associados a saúde e bem-estar, o mecanismo compensatório do exercício físico em excesso costuma passar despercebido como um comportamento prejudicial à saúde. Ellen chega a ter sequelas visíveis em sua coluna pelo excesso da prática de abdominais, demonstrando que, em excesso, a atividade física, além de contribuir para lesões nos músculos e articulações, ao associar-se com uma dieta inadequada, contribui para um colapso de estresse no organismo, oferecendo inúmeros prejuízos à saúde.
A causa dos transtornos alimentares é multifatorial, sendo combinados fatores biológicos, psíquicos e sociais. Porém, seu início costuma estar associado a algum evento estressor como divórcio dos pais, mudança de país, falecimento de um ente querido, entre outros.
Na trama, Ellen desenvolve o transtorno após o divórcio dos pais, sendo agravado pelo fato de sua mãe assumir um relacionamento com outra mulher e, ao longo do filme, ficar evidente a ausência do pai em sua vida e ao longo do tratamento.
Outra questão do senso comum é associar transtornos alimentares a pessoas que visivelmente sofrem com destruição e estão abaixo do peso. Mito! Uma das personagens internadas chama atenção para seu sobrepeso, desmistificando este conceito.
Diferente do que a maioria das pessoas imagina, quem sofre de bulimia frequentemente apresenta peso dentro da normalidade ou sobrepeso. Isso não quer dizer que não há necessidade de tratamento. É característico da bulimia o consumo de grandes quantidades de alimentos que, embora não causem necessariamente a desnutrição, pode contribuir para problemas de colesterol, diabetes e prejudicar o sistema digestivo e a dentição, devido à frequente indução do vômito.
Um dos sintomas presentes naqueles que sofrem do transtorno alimentar é a distorção da autoimagem, prejudicando a percepção do corpo. Esse é um grande entrave para reconhecer a necessidade de tratamento, e favorece a busca inalcançável por padrões de beleza e o peso que considera ideal.
Em uma das pesagens, a madrasta de Ellen a fotografa sem roupa para auxiliar na percepção que a personagem tem de si mesma.
Outro sintoma é a obsessão pela contagem de calorias. Ellen chega a ser reconhecida por sua irmã como “autista das calorias”, por identificar precisamente as calorias de cada alimento.
É comum que aqueles que sofrem de transtornos alimentares façam pesquisas em sites de busca e redes sociais sobre técnicas que auxiliem na perda de peso e sobre referenciais de beleza e estilo de vida de outras pessoas que compartilham do transtorno.
O fato é abordado na trama através de um acontecimento dramático na vida de Ellen: uma de suas publicações na sua rede social resulta na inspiração para o suicídio de outra jovem. O fato alerta para gravidade do transtorno: devido aos impactos na saúde mental decorrentes do transtorno, é frequente o desenvolvimento de depressão e prejuízos na autoestima, que aumentam significativamente as chances do suicídio para essas pessoas.
Numa das cenas do filme, há o questionamento de indignação e tristeza feito pela irmã de Ellen, desabafando:
“Por que você não come e paramos todos de sofrer?”
Embora pareça simples, quem sofre do transtorno enfrenta extrema dificuldade para se alimentar, e tem que lidar com intenso sentimento de culpa e desconforto, mesmo que esteja com fome ou desejo.
Para quem pensa que transtorno alimentar é algo passageiro ou motivado por questões estéticas, o filme evidencia as severas complicações que podem causar na saúde, podendo culminar em risco de morte. Além da amenorreia (ausência da menstruação) e do aborto espontâneo de uma das personagens, que sofre com a fragilidade de sua saúde, o risco de morte é colocado maneira sensível em um dos sonhos de Ellen.
Ela, dramaticamente, vê seu corpo definhado, já morto. Fica o alerta: os transtornos alimentares podem causar sérios prejuízos à saúde como: taquicardia, anemia, anormalidades nos sinais vitais, entre outros.
Ao longo do tratamento é essencial que exista o apoio e compreensão dos familiares. No filme, isso fica marcado no convite para a terapia familiar, feito pelo psiquiatra que acompanha Ellen, ou quando a mãe de Ellen, de forma muito afetiva, ajuda a protagonista a se alimentar, algo que contribui para o desejo de adesão ao tratamento.
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Em uma entrevista, Lily Collins relatou que para o papel precisou perder bastante peso e que, ao longo do processo, uma conhecida elogiou, entusiasmada, o resultado, indagando sobre o que teria feito e elogiando-a, por estar maravilhosa. Sem chance de explicar a razão da perda de peso, pensou consigo mesma a razão do transtorno existir.
A perda de peso sempre acompanha um reforço positivo para aqueles que sofrem do transtorno, se associando a disciplina e sucesso, retroalimentando o mecanismo da ausência de limites na busca pelo emagrecimento. Um elogio como estes contribui negativamente para quem sofre do transtorno.
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Imagens reprodução
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