Em 1976, o psicanalista Erich Fromm publicou o livro com o título: “Ter ou Ser”, que investigou o que estava acontecendo na sociedade pós-moderna, uma mudança de comportamento social na direção de que – “Somos uma sociedade de gente visivelmente infeliz: sós, ansiosas, deprimidas, destrutivas, dependentes – gente que se alegra quando matou o tempo que tão desesperadamente tentamos poupar”.
Em nossa cultura, como analisou Fromm, tem como objetivo supremo é o Ter cada vez mais até parecer uma função normal da vida que para viver necessitemos de possuir coisas. Mas isso tem um custo enorme para o meio ambiente, à medida que relação das pessoas com a natureza tornou-se destrutiva.
Numa sociedade como a nossa, onde as marcas de grife ganharam fama e viraram produtos descartáveis, se tornando fonte de status quo. Hoje tem gente que fala da sua saúde com um sentimento de propriedade, referindo-se às suas doenças, aos seus medicamentos e às suas dietas, como se a saúde e a doença fossem também marcas de grife.
Na internet as pessoas passaram a mostrar o Ter mais do que tudo, se exibir. Publicam suas fotos em diversas situações: eventos requintados, amigos influentes e aquisição de bens. Todas imagens atraentes, que aparentam um sentimentos de felicidade, para causar inveja aos seus amigos que veem isso como sinais de fingimento.
Vivemos um impasse, pois o tempo do Ser cede de modo crescente espaço para o domínio do Ter. Esvazia-se, os valores subjetivos na troca pelos valores de posses de bens materiais. O mundo se globalizou e os valores subjetivos, que eram enraizados no espaço público, dissolvem-se no confronto da sociedade líquida, em razão de que a propaganda transforma o Ter em “falsa felicidade”, que se coisifica nas mercadorias acessíveis aos consumidores.
Nessa competição narcísica pelo Ter, gasta-se muita energia psíquica pela aquisição de corpos esculturais e hipervalorizados, e além disso, na busca pelo Ter inúmeras pessoas entram num endividamento financeiro. E quando o Ter não atinge o sucesso desejado, sobra aos indivíduos a procura dos medicamentos antidepressivos para aliviar o sofrimento por não alcançar o equilíbrio entre o Ter e o Ser.
Não estamos recusando a necessidade do consumo responsável, dado que todos precisamos consumir e possuir uma vida digna no ponto de vista financeiro e material, não há nada de errado nisso. O que temos que encontrar, com serenidade, é o equilíbrio entre o Ter e o Ser para não acentuar a arrogância e agressividade, aspectos primitivos da defesa narcísica, que geram pessoas infelizes que anulam o Ser em detrimento do Ter.
O filósofo francês Frédéric Lenoir em seu livro Sócrates, Jesus e Buda três mestres de vida, aprofunda a nossa reflexão da importância do equilíbrio entre o Ser e o Ter: “O dinheiro e aquisição de bens materiais são apenas meios, certamente preciosos, mas nunca um fim em si. O desejo é por natureza, insaciável. Ele desperta frustração e violência.”