A palavra refletir deriva do latim: “reflectere”, que significa: de novo, voltar e dirigir-se. Ela nos oportuniza a pensar sobre nós mesmos e a tudo o que nos cerca. Assim, voltamos para o espírito natalino, em um olhar ético, a fim de sentir e agir com clareza, com o intuito de respeitar o bem comum e a justiça.
Aliás, a ética é a ciência cujo objeto é o julgamento aplicado à distinção entre o bem e o mal, que se preocupa com a conduta humana ao nível da vida biológica, moral e social. Nesse plano, a ética cristã é a síntese do Sermão da Montanha, no qual o Reino de Deus se caracteriza pela humildade, mansidão, misericórdia, justiça, generosidade e acima de tudo pelo amor.
Nessa perspectiva, vamos refletir sobre a ética do cuidado em uma sociedade que age ao contrário, do espírito natalino: não cuida da natureza; não cuida da alma e do corpo; não cuida da amizade; não cuida do amor conjugal e familiar; não cuida da relação do profissional de saúde e paciente, etc. Ademais, despreza a fragilidade da vida e conduz as relações humanas de modo reducionista.
No entanto, a ética do cuidado respeita a igualdade entre as partes, porque traz a consciência da fragilidade da vida e do meio ambiente. A ética cristã nos ensina a teoria e a prática, baseadas na vida de Jesus, que se constitui na solicitude e benquerença, onde ocorre a sensibilização para com a experiência humana e o reconhecimento da alteridade do outro, que tem suas singularidades e diferenças.
Para o exercício da ética do cuidado nem sempre falar significa importar-se com as outras pessoas. Porém, é a capacidade de escutar, que nos permite o momento adequado para a fala, ou seja, são aquelas palavras sensíveis, para criar um vínculo de afeto, confiança e empatia.
A ética do cuidado possui um amplo espectro de ação, permitindo que cada um de nós, dentro do seu espaço social, possa exercê-la na proteção da integridade física, psíquica e moral da pessoa humana, visto que todos têm o direito à vida e ninguém poderá ser submetido a tratamentos humilhantes, desumanos ou degradantes.
Por sua vez, as nossas ações devem ter uma postura cuidadosa com o planeta terra, a nossa casa comum, que se encontra ameaçada por inúmeros problemas, entre eles: a ganância econômica, a competição predatória, os desmatamentos, a poluição do ar e do solo, a contaminação das águas, o efeito estufa, as mudanças climáticas e o aquecimento global.
É importante sublinhar, que José e Maria exerceram na plenitude a ética do cuidado com o menino Jesus, sobretudo, contra o mal que os perseguiam. Hoje, as mulheres são exemplos da prática do cuidado, porque sem elas a vida não seria consubstanciada. Então, para cuidar da totalidade do ser humano e do planeta, precisamos renovar a nossa dimensão espiritual, capaz de fazer frente às poderosas forças malignas que atuam no mundo.
Portanto, o Natal é um evento renovador da nossa espiritualidade, que não é passado, pois seu espírito vai além do cronológico: é a presença cuidadosa e amorosa de Cristo entre nós. É por isso, a relevância da ética do cuidado, uma vez que cada pessoa, cada animal, cada inseto, cada planta e cada micro-organismo recebem a vida, como um dom de Deus.
Afinal, o espírito natalino é a abertura – na consciência do seres humanos – para a ética do cuidado, que confere à vida de homens e mulheres um horizonte de aprendizado de gratuidade, de não violência e de conversão do coração, como energia psicoespiritual e ecológica, no sentido de enfrentar as coisas ruins que acontecem em nossa sociedade.
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Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
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