Quem nunca imaginou ter um relacionamento maduro e duradouro, em que a/o parceira/o compreendesse seus momentos felizes, mas também os tristes, respeitasse suas vontades, fosse leal e lhe trouxesse tudo o que falta? Ou que seus pais não fossem tão ranzinzas por proibirem você de sair ou dormir na casa das/os suas/eus amigas/os? Ou ainda que seu chefe não pegasse tanto no seu pé? É comum projetarmos expectativas nas relações com outras pessoas, já que temos nossos próprios ideais de relação e como devem se estabelecer. Esperamos que nossos relacionamentos supram esse ideal e se tornem satisfatórios seja no âmbito pessoal, afetivo e até mesmo físico, formando um equilíbrio entre as/os envolvidas/os. Porém, muitas vezes acabamos esquecendo que os sujeitos com os quais nos relacionamos também possuem suas crenças e desejos, e que é importante olhar para esses aspectos e construir juntos uma relação que tenha como fundamento respeito.
Desde muito cedo, construímos nossos pilares emocionais, e neles incorporam-se ao longo da vida inúmeras emoções e sentimentos, criando nossa zona de conforto emocional. Isso nos constitui como sujeitos e nos mantem conectadas/os tanto ao nosso mundo pessoal quanto ao real. É importante ressaltar que esses ideais criados são fundamentais para que possamos entender quais características estamos dispostas/os a manter contato e quais são os nossos limites pessoais. O cuidado está em não deixar que as nossas fantasias se tornem o ponto de corte com a realidade. Sem dúvidas, nosso mundo ideológico é mais confortável, já que lá se encontram todos os nossos desejos, expectativas e necessidades saciadas – sejam elas racionais ou não, mas ele também pode nos afastar do contato com o mundo, com o outro e com sua história.
Somos seres marcados inerentemente pelas relações interpessoais, e sem que possamos nos adequar as mesmas, perdemos contato com aprendizados significativos e vivências que nos auxiliam em nosso processo de crescimento. Quanto mais nos permitimos enxergar o outro em toda sua complexidade, mais conseguimos construir laços de reciprocidade. Ao trazemos a relação para o que de fato acontece, percebendo nossos erros, mas também nossos acertos conseguimos enxergar o outro e seus diferentes formatos, sem negar as trocas que ocorrem. Faz parte desse processo compreender que não é falta de cuidado quando o outro não age como queremos, mas que ela/e não está na relação como um peão criado para suprir todas as minhas expectativas. Estamos todos passando por nossos próprios processos de aprendizagem e construção pessoal e cobrar do outro uma maestria no contato é esperar que existam criações perfeitas pairando sobre nós.
Lidar com isso significa entender que vamos nos frustrar muitas vezes ao longo de nossas vidas. A frustração ocorre quando confrontamos expectativas com a realidade e percebemos que não são compatíveis. Que a realidade não ocorreu necessariamente como planejamos. Que somos egoístas quando acreditamos que só nossos desejos tem lugar. Expectativas frustradas destroem relações quando não se percebe a bagagem de aprendizado que trazem consigo. Expectativas são pautadas em nossas impressões, o que significa dizer que quando nos frustramos com o outro, na realidade estávamos projetando algo pessoal para além de nós e, vamos concordar, é injusto esperar que o outro lhe dê algo que não lhe pertence, ou que você não pede à ela/e.
Afinal, conseguimos viver sem expectativas? Essa é uma tarefa muito difícil, principalmente por convivermos com inúmeras artimanhas e mecanismos que nos auxiliam na criação dos nossos parâmetros de convivência, como filmes, novelas, músicas, livros, rodas de conversas e o próprio contato com as pessoas ao nosso redor, mas podemos reduzir ao máximo os danos que elas nos trazem. A dica é entender em que momentos nossas expectativas surgem e a quem estão servindo, tentando adequá-las ao que de real está em contato conosco. A relação com a realidade reduz as expectativas, mas aumenta as possibilidades e nos apresenta caminhos surpreendentes. O real contato nos auxilia na construção de relacionamentos saudáveis e nos parâmetros que a própria relação permitir. Relações exigem empatia e a delicadeza do cuidado, para que possam se tornar trocas autênticas e pautadas na compreensão do mundo para além do nosso egoísmo afetivo.
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