A minissérie Alias Grace (2017), baseada no romance homônimo de Margaret Atwood, é uma narrativa envolvente sobre crime, memória e poder, misturando suspense psicológico e crítica social. Ambientada no Canadá do século XIX, a série acompanha a história real de Grace Marks, uma jovem imigrante irlandesa condenada pela morte de seu empregador, Thomas Kinnear, e de sua governanta, Nancy Montgomery. Ao longo dos seis episódios, somos levados a questionar a verdade por trás do crime: Grace é uma vítima das circunstâncias ou uma manipuladora perigosa?
A trama é estruturada em torno das sessões de entrevista entre Grace (Sarah Gadon, em uma atuação hipnotizante) e o médico Simon Jordan (Edward Holcroft), um psiquiatra chamado para avaliar a sanidade da prisioneira e determinar se ela deve ser perdoada. A narrativa é não-linear, saltando entre o presente e o passado, o que nos leva a mergulhar nas memórias fragmentadas e ambíguas de Grace, tornando difícil discernir o que é verdade ou invenção.
Com direção de Mary Harron, a série impressiona pela estética refinada e sombria, que utiliza luz natural e tons terrosos para criar uma atmosfera densa e claustrofóbica, enquanto a cenografia retratam com precisão o ambiente austero da época. Outro ponto forte é a trilha sonora minimalista, que amplifica o desconforto e a tensão psicológica à medida que a história se desdobra.
Mais do que um mistério policial, Alias Grace é uma obra que explora as desigualdades de gênero e classe, revelando como as mulheres eram oprimidas e desumanizadas em uma sociedade patriarcal. Grace é tratada não apenas como suspeita de um crime, mas também como objeto de curiosidade e desejo, tanto pelo doutor Jordan quanto pelos homens que cruzaram seu caminho. A série nos convida a reflexão sobre até que ponto a verdade pode ser moldada pela perspectiva de quem a conta e de quem a escuta.
Com uma narrativa envolvente, Alias Grace é uma obra que desafia nossas certezas e nos faz repensar noções de justiça e verdade.