Por Aline Marques da Silva no blog Gestaltizando
O post de hoje é mais direcionado aos meus colegas de atuação, mas nem por isso menos importante para todos nós em nossas diversas relações cotidianas.
Ser psicólogo e psicoterapeuta não é tão fácil como muitos podem pensar que seja. A escuta, para que seja realmente uma escuta, deve ser livre de pré-conceitos e julgamentos. A Gestalt-terapia tem um cuidado todo especial para que essa escuta aconteça.
O falar desenfreado de um determinado paciente não o encaixará num rótulo de histeria, aquele paciente que passa sessão atrás de sessão falando de amenidades, artes, música, cultura, não é “um paciente que está fugindo ou se esquivando de algo”, o silêncio nem sempre é algo que necessita ser preenchido. Não há regras, não há generalizações. Todos esses comportamentos por parte de nossos clientes, dizem coisas, sim. Dizem do modo de eles funcionarem no mundo, nas relações, dizem de suas necessidades.
Nossa tarefa, enquanto psicólogos, acredito eu, não é colocar um rótulo imediato às ações e comportamentos de nossos pacientes e a partir disso, congelá-los naquela posição de “histéricos”, “deprimidos”, “arredios”, etc. É preciso estarmos atentos e ouvir não somente as palavras, mas o que está sendo dito com o corpo, com os olhos, com a forma com que nosso paciente se relaciona conosco.
Aquele que vem à consulta e passa seu tempo falando de amenidades está escolhendo passar aquele momento assim. Talvez esse seja o único momento do seu dia, da sua semana, em que pode conversar com alguém sobre essas coisas. O paciente que fica uma hora inteira em silêncio talvez não tenha fora do consultório espaço para ouvir seus próprios pensamentos. A demora para que a terapia comece a “deslanchar” talvez traga em si um pedido de “vá com calma comigo, eu preciso sentir aonde estou pisando, preciso confiar em você”.
Lembro de certa vez ter ouvido um conto que falava de uma índia da tribo xingú que estava à beira de um rio fazendo vasos de barro. A cada vaso que terminava, seu filho pequeno que estava com ela pegava o vaso e o estilhaçava no chão. Isso aconteceu seguidamente, até que uma observadora perguntou porque a mãe não fazia nada a respeito. E ela respondeu: “se ele precisa quebrar os vasos, eu preciso continuar a fazê-los”.
Acredito que muito do fazer do psicólogo seja desempenhar papel muito parecido com a mãe da tribo xingú.
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Será que você é capaz de montar o complexo quebra-cabeça psicológico deste filme?