Mulheres são mesmo seres que embelezam o mundo. São como ‘delicadezas de areia fina’; doces acalantos a embalar berços; sonhos debruçados em janelas abertas à esperança.
Contudo, a condição feminina é maior do que a dimensão sensível que tem representado sua identidade de gênero. A despeito disso, a história das mulheres é, também, a história da luta feminina para exercer dignidade em um mundo marcado pela cisão sexista da tribo humana, onde poder e força sempre estiveram ligados à condição de masculinidade.
Legado criado em milênios marcados pela supremacia, não raro violenta, do gênero masculino e que levou à negação sistemática do feminino como gênero capaz de autodeterminação e de participar em equidade da construção da história humana.
Sair dessa realidade para um modelo integrador pede que alarguemos a compreensão de aspectos centrais nas questões de gênero, visando a assunção de modelos de sociabilidade alicerçados na valorização da diversidade. Ocorre que o desafio de integração equânime dos gêneros exige a compreensão da própria condição feminina. Ainda engatinhamos nessa direção, entretanto, alguns ramos das Ciências Humanas fornecem conhecimentos que podem levar a um entendimento mais amplo.
A Psicologia Junguiana, por exemplo, tem noções amplas do que é ser feminino e masculino. Carl Jung defende que somos identidades forjadas pela convergência de elementos opostos e complementares. Ou seja, as personalidades femininas e masculinas se expressam não somente pelo que é próprio de uma ou de outra, pois integram também características de similaridade entre si. No homem, há a Anima, personalidade interior com características femininas. Na mulher, essa personalidade interior se manifesta como Animus, núcleo de dotes masculinos.
Simplificando, masculino e feminino funcionam em condição de completude. As mulheres conciliam força, agressividade, domínio e impulso próprios do masculino, com intuição e tendência protetora, propriedades inerentes à condição feminina. E vice-versa.
É apenas uma entre algumas visões, mas pode ajudar a compreender que há uma ‘porção feminina’ que se inscreve de forma própria em cada indivíduo. Desse modo, podemos nos enxergar como seres de amplitude e agir como personalidades enriquecidas pela consciência de tudo o que somos. Talvez esse seja um passo importante para nos reconhecermos mutuamente como agentes capazes de criar uma civilização plural e integradora; ajudando-nos a superar a crença perversa de que as diferenças nos separaram, quando de fato, nos enriquecem.
Imagem de capa: Shutterstock/Jozef Klopacka