O fim do ciclo e a dificuldade do desapego

Por Wellington Freire

Agora chega! Você já sofreu o suficiente, matou no peito as dores mais corrosivas possíveis, seu coração bateu feito um tambor por semanas, gritou por dentro incessantemente como um bebê recém-nascido. Você chegou ao limite e daqui não poderá passar.

Tornar consciente a necessidade de aproveitar as coisas que a vida lhe ofereceu foi uma espécie de mantra que você repetiu diariamente. O momento era o agora e o amanhã independia da sua vontade. Você foi corajoso, hedonista e por isso viveu coisas que outras pessoas não poderiam sequer sonhar. Laçou o seu desejo mais íntimo e o transformou em realidade. Viveu a ficção. Saiu da zona de conforto e de possibilidades.

Sentiu-se no controle absoluto, segurou firme nas rédeas da vida e se convenceu de que o seu futuro estava nas suas mãos. Não foram poucas vezes em que sofreu dissabores que se converteram em lágrimas, mas nesse jogo ganha-ganha-perde-perde da vida o seu bônus era maior que o ônus. Inclusive essa foi a razão pela qual você chegou até aqui.

Mas agora acabou. O ciclo fechou. A roda girou. E você está com o pescoço virado para trás, incrédulo de que o presente recente já se converteu em passado. Ainda ontem era presente. Uma semana, um dia, uma hora. Na verdade você não sabia que as coisas acabariam assim tão inesperadamente.

Ou talvez soubesse, mas não estava preparado para encarar a realidade no seu aspecto mais nevrálgico. Você sabia que nada dura para sempre. Mas e se com você fosse diferente? Mas e se acabasse e você não ficasse tão mal? E se a vida realmente não fosse esse monstro de cinquenta cabeças que agora ela parece ser?

E se… você definitivamente pudesse se desvencilhar daquilo que passou e, por fim, conseguisse abrir a janela e olhar a beleza do que há lá fora? E se você descobrisse que o sol está logo ali e que você já está pisando na estrada que te levará para o mais inesquecível dos verões?

Não.

Não é fácil “desviver” o já vivido. Zerar a conta. Pedir uma nova rodada. Colocar em prática a velha balela de que o presente deve se construir sobre o passado. Viver é para os fortes e você é um deles. Se já chegou até aqui, provavelmente não morrerá disso. Talvez lhe doa entender que o ciclo fechou, mas amanhã (eu prometo, amanhã) se dará conta que o ciclo não se fechou coisíssima nenhuma.

O que aconteceu foi que outro ciclo se abriu. Você lembrou que não é a primeira vez. Que já passou por baques mais fortes. Mas você já está na estrada novamente. Um pouco debilitado, como todo bom soldado que volta da guerra. Mas está em pé. Pronto para começar uma nova jornada com destino (ainda) desconhecido.

Imagem de capa: Shutterstock/Eakachai Leesin

TEXTO ORIGINAL DE OBVIOUS






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