Por Alexandre A. Loch
Grosso modo, quando no linguajar popular dizemos a palavra “loucura”, para a psiquiatria estamos falando das psicoses. E psicose refere-se basicamente a duas coisas: alucinações, que é ver, ouvir ou sentir coisas que não existem; ou delírios, que é crer em coisas que não existem. Acreditava-se antigamente que a psicose era restrita a alguns diagnósticos, dentre eles a esquizofrenia, seu representante prototípico. Mas o que se observou nas últimas décadas foi algo bem diferente.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a esquizofrenia uma doença grave. Para se ter uma ideia, lá no século XVIII ela era chamada de “demência precoce” devido ao seu curso desfavorável. Claro que com o advento dos psicofármacos a coisa melhorou muito.
Hoje em dia há pessoas com esquizofrenia que remitem completamente da doença, levando uma vida normal, como qualquer outra pessoa. Mas os casos graves existem e não são poucos. Devido a isso, grandes estudos foram realizados e detectaram casos de psicose e pré-psicose através da presença de alucinações e/ou delírios. E o que se viu é que os ditos sintomas psicóticos não são exclusividade da esquizofrenia: estão amplamente espalhados por aí.
Um estudo realizado em São Paulo mostrou que 38% dos entrevistados tinham tido pelo menos uma vivência psicótica ao longo da vida. Ou seja, tinham pelo menos uma vez na vida visto, ouvido ou acreditado em algo que não existia. Assim como em outros países, observou-se que tais lapsos de “loucura” são extremamente comuns. Não implicam necessariamente em doença, pois a maioria dessas pessoas levava sua vida normalmente; apenas 3,4% demonstrava algum sinal de disfuncionalidade, e apenas 2,1% tinham diagnóstico de esquizofrenia. Entretanto, estas vivências podem ser um fator de risco para morbidade psiquiátrica em geral.
E o que influencia o aparecimento de tais manifestações? Ano passado, em pesquisa feita em conjunto com o Instituto Ipsos, descobrimos que um dos fatores mais importantes no aparecimento de sinais de psicose na cidade de São Paulo é a pobreza. Ou seja, quanto mais desfavorecido economicamente o indivíduo é, mais vulnerável está a apresentar sintomas psicóticos. Trocando em miúdos: dificuldades econômicas podem gerar loucura em indivíduos predispostos.
Este foi um dos grandes achados da pesquisa. Já que a maioria deste tipo de estudo é feita em países desenvolvidos na Europa e América do Norte, a pobreza acaba sendo um fator que não aparece muito. Já em São Paulo ela ficou evidente. Com a crise que o país vem enfrentando, uma reportagem no Huffpost destacou o aumento no número de antidepressivos vendidos nos últimos anos no Brasil. Sabíamos que adversidades sociais podiam desencadear quadros de depressão e ansiedade. Agora sabemos também que elas podem precipitar quadros psicóticos.
Em suma, a irresponsabilidade dos últimos governantes, que nos jogou em uma profunda crise econômica e moral, com escândalos envolvendo níveis de corrupção e desvio de dinheiro sem precedentes, não afeta somente nossos bolsos. Afeta também a saúde mental do brasileiro. A qualidade de vida caiu, o poder aquisitivo também, o endividamento e o desemprego aumentaram. Com isso a pressão sobre o psiquismo aumentou. Em meio a este caos, temos de estar atentos, procurar ajuda, aconselhar conhecidos quando necessário e nos cuidarmos para não enlouquecermos.
Imagem de capa: Shutterstock/Yvdalmia
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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