Vivemos hoje um inventário dos medos que geram uma ansiedade avassaladora. Por exemplo, temos medo de perder o emprego, medo da exclusão social, medo ficar doente, medo de ficar sem amor, medo da violência social e medo da insegurança do futuro. Por isso, necessitamos urgente responder: De onde vem o medo? Para que serve medo? Quem ganha com o medo? Quem projeta o medo? O que se perde com o medo?
Esses medos manifestos vem de todos os níveis da vida: familiar, religiosa, política, social e econômica. São correntes que geram desconfiança, que promovem uma cultura do ódio – contra aqueles que são diferentes. Existimos numa era extremista que se pauta em verdades absolutas. O medo é seguramente o mais sinistro dos “monstros”, que habita na consciência coletiva, impedindo que as pessoas confiem umas nas outras.
O medo serve para fomentar a indústria de segurança: grades, seguros, alarmes, etc, que na maior parte das vezes, fornece mais uma proteção simbólica do que real. E do mesmo modo serve para alimentar determinados discursos políticos, religiosos e de setores da mídia – que se utilizam do medo coletivo para promover a instabilidade emocional. Além disso, o medo serve para direcionar generalizações receosas: todo político é ladrão, todo negro é bandido, todo homoafetivo é pervertido, tenho que ser magra para ser amada, tenho que ter muito dinheiro para ser feliz, ganhar dinheiro sem esforço é o melhor caminho e assim por diante.
Quem ganha com o medo, é a propagação da paranoia social: circular em lugares seguros, dentro de shopping centers, dirigir carros blindados, viver em condomínios fechados e com isso aumenta o consumo de tranquilizantes, uma vez que o medo passa ser uma marca poderosa do nosso tempo. Esse cenário permite que o governo adote medidas cada vez mais autoritárias, diminuição de recursos da previdência social, saúde, educação e o apoio à privatização da polícia e dos presídios.
No seu livro “Medo Líquido”, Bauman faz um estudo singular sobre a vida contemporânea e revela quem projeta – o inventário dos medos atuais. – E afirma: “O que presenciamos diariamente é a busca desenfreada do lucro nos jogando em uma arena de feras desesperadas lutando pela sobrevivência, e é isso que chamamos hoje em dia de Cidade. Deixamos que o medo nos consuma e, assim, nos tornamos um boneco desse fenômeno e conseqüentemente da mídia que se reaproveita das vulnerabilidades humanas”.
A tarefa que nos resta, é a de compreender de forma ampla o medo e suas implicações no atual contexto, senão se perde com o medo a nossa capacidade de agir de forma solidária e cooperativa. Enfim, não podemos deixar jamais que a esperança se perca, pois, o futuro da democracia e da liberdade depende de cada um de nós, mostrando que a paz não caminha sozinha. Nos humanos, temos que entrar em consenso e comunhão para que possamos coabitar numa sociedade mais justa e, possivelmente, sem medos.
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