Superar a morte é algo que exige muita “digestão”. O fato de sermos seres racionais, de termos consciência do fim, seja do nosso fim, seja do fim de qualquer outro ser, não nos garante que saberemos lidar com a perda.
De fato o animal não é uma pessoa, mas para muitos de nós eles são tratados como tal. Embora sejam irracionais e não se comuniquem com a fala, são ótimos companheiros, sabem nos amar, são excelentes remédios contra o estresse e são fontes inesgotáveis de carinho.
E aí? Será que mesmo sendo tão importantes em nossas vidas isso não nos da o direito de sofrer por eles? Então: viver ou não viver o luto de sua morte? Sofrer ou não sofrer por um animal irracional?
Muitas vezes os donos de animais de estimação se sentem sem permissão para chorar abertamente a morte de seu bichano, porque a sociedade não aceita “o sofrer” pela morte de um animal. Neste momento, principalmente por se tratar de um luto não franqueado, ou seja, não aceito, vale mais procurar por pessoas que já passaram pela mesma situação que a sua, ou que te compreendam mesmo sem ter passado por isso. Lembre-se: cada um tem o direito de chorar pelo que lhe faz sofrer. Não se proíba de chorar e falar deste momento.
Quanto tempo esta tristeza vai durar? Quando conseguirá lidar com essa perda com calma? Não é possível estabelecer um tempo para você ficar triste, isso dependerá da intensidade e forma de relação com seu bichano.
Mas existem algumas etapas ligadas à perda de um ente querido, que podem te ajudar a elaborar essa dor e entender melhor este período. Chamamos também estas etapas de fases do luto. Não significa que você passará por elas, nem que elas acontecerão na ordem que estão descritas abaixo, pode ser inclusive que passe por mais que uma ao mesmo tempo. Ainda, pode ser que alguns momentos cruciais, como o aniversário do animal, faça você voltar para uma dessas fases novamente.
Conhecendo as fases do luto…
Pode acontecer ainda quando o animal está vivo, em fase terminal, ou com risco de morte. O dono tem dificuldade em aceitar a morte do animal, esta dificuldade pode evoluir para um estado de choque quando a morte acontece. Na negação o dono tem dificuldade em entender que o animal já morreu, tem a sensação que pode mudar a realidade e que seu animal de estimação voltará a viver. Normalmente, nesta fase o dono começa a procurar o porquê dos fatos, o porquê de ter acontecido com ele. Procurar uma causa para esta triste consequência que é a morte.
Assim que o dono se dá conta da realidade, da perda de seu animal de estimação, o dono pode se sentir raivoso. Esta raiva pode ser direcionada para o veterinário que não salvou a vida de seu animal, para os familiares que não respeitam sua dor, ou não expressam como ele sentimentos pelo bichano, também pode ficar com raiva de Deus e até se sentir traído pelo próprio animal de estimação que o deixou.
Os donos se questionam a todo o momento se não poderiam ter feito diferente, se fizeram a escolha certa, se não deveriam ter procurado outro profissional. A cabeça fica cheia de “se…” “se isso, se aquilo”.
A culpa é recorrente, pois o dono é o responsável pelo animal, ele é quem toma as decisões que influenciam de forma determinante na vida do bichano. Assim, o dono sente-se também responsável pela sua morte.
Nos casos de eutanásia o dono também passa pela culpa, mesmo quando ele aceita o processo, fica o questionamento se ele deveria ter insistido no tratamento, se deveria ter feito a eutanásia antes, se prolongou demais o sofriemnto do bichano ou se não se esforçou o suficiente para lhe garantir a vida.
Da mesma forma que nos entristecemos quando perdemos uma pessoa, o mesmo pode ocorrer quando perdemos um animal. É natural, pois perdemos alguém que amamos, alguém que estava presente, diariamente, em nossa vida, e que agora teremos que aprender a viver sem.
Como supramencionado, não há um tempo exato para esta tristeza passar. Partilhar este momento com outras pessoas que compreendem ou passam por essa dor, podem auxiliar a nos reintegrar emocionalmente.
Contudo, quando essa tristeza impossibilitar ou paralisar por muito tempo sua rotina, quando esta tristeza te impedir de seguir adiante, e te isolar por muito tempo do que fazia, talvez seja hora de procurar ajuda.
Entender o fato como algo que aconteceu e que não tem como alterar. Encarar a vida e seguir vivendo. A aceitação é um momento marcado por calma e paz, em que o dono conseguirá encontrar um lugar adequado para seu animal de estimação em sua vida psicológica. Isso não significa esquecê-lo, mas sim resignificá-lo emocionalmente. Neste momento a morte do animal não mais “paralisará” o dono.
Não esqueça que o processo de luto é único, cada indivíduo vai vivê-lo em seu tempo e da sua forma. Não existe certo e errado.
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