O melhor antidepressivo que existe

Por Michele Muller

A atriz, roteirista de Girls (HBO) e escritora Lena Dunham não esconde de ninguém sua luta contra transtornos da mente. A ansiedade e o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) da autora são abordados tanto na série como em seu livro Não Sou uma Dessas, recém-lançado no Brasil (Editora Intrínseca) e best-seller da Amazon. Foi apenas este ano, depois de muitos anos convivendo com os problemas diagnosticados ainda na infância, que Lena se surpreendeu com uma das formas mais eficazes que encontrou para combater a ansiedade. Postou em seu Instagram, embaixo de uma selfie em trajes de ginástica, um incentivo aos seguidores que vivem os mesmos problemas.

Segundo a escritora, o exercício físico a ajudou de uma forma que ela nunca havia sonhado – e frisou que não estava se referindo ao corpo, mas à sua mente. “Para aqueles com ansiedade, TOC, depressão: sei que é irritante quando lhe dizem para se exercitar, e precisei de 16 anos de medicação para ouvir o conselho. E que bom que fiz isso”, revelou.

Assim, Lena é o mais novo nome do rol de escritores que descobriram que corpo e cérebro funcionam de forma interligada e, assim, encontraram no movimento uma fórmula imbatível de manter a mente sã e produtiva. Muitos outros buscaram no exercício físico o desbloqueio criativo: o filósofo Henry Thoreau dizia que seus pensamentos fluíam ao mesmo tempo em que suas pernas começavam a se mover; a escritora Joyce Carol Oates já escreveu que correr a ajuda a expandir a consciência e a encontrar ideias que jamais teria sentada em uma sala; o japonês Haruki Murakami e o americano Don De Lillo enxergam a prática da corrida como uma espécie de “encubação de ideias”, responsável pelo estado mental mais propício para o trabalho intelectual.

Já Hemingway, assim como Lena Dunham, encontrou no exercício uma tática para superar os tormentos da mente. Em 1936, o autor de O Velho e o Mar escreveu para o seu sogro, Paul Pfeiffer, que havia descoberto que cérebro e corpo precisam de exercício para o bom funcionamento “tanto quanto um motor precisa de óleo”.

Todas essas mentes repletas de tormentos, medos, angústias e muitas ideias confirmaram na prática aquilo que a Neurociência apenas recentemente está mostrando em laboratório: a atividade física é uma das formas mais eficazes de promover a plasticidade cerebral e reverter a toxidade causada por altos e constantes níveis de estresse. Ao liberar uma cascata de neurotransmissores e fatores de crescimento, o exercício – especialmente o aeróbico – ativa intensamente o córtex frontal, inibindo as funções inferiores e, assim, controlando a impulsividade. O aumento imediato de níveis de neuroquímicos como norepinefrina, serotonina, dopamina e canabinoides promove melhora na atenção, memória, humor e na autoestima, além de reduzir os níveis de estresse, ansiedade e raiva.

De acordo com o professor de Neuropsiquiatria da Escola de Medicina de Harvard John Ratey, autor de diversos livros sobre saúde mental, nenhuma outra maneira de tratar problemas como ansiedade e depressão atua de forma tão holística e sem efeitos colaterais. Ele destaca que a resposta positiva ao exercício físico é muito próxima à dos antidepressivos, mas sem as reações adversas e com um bônus: foi você o agente da mudança.

ESTUDO COMPROVOU QUE 30 MINUTOS DE EXERCÍCIO FÍSICO EM DIAS ALTERNADOS ALCANÇA A MESMA EFICÁCIA QUE AS PÍLULA S NO COM BATE À DE PRESSÃO EM CURTO PRAZO

Um dos mais reveladores estudos sobre o efeito antidepressivo do esporte, realizado por pesquisadores da Duke University há alguns anos, comprovou que a prática de 30 minutos de exercício físico em dias alternados alcança a mesma eficácia que as pílulas no combate à depressão em curto prazo. O estudo, que envolveu 158 pacientes diagnosticados com depressão severa, concluiu que, depois de seis meses, apenas 8% das pessoas comprometidas em se exercitar experenciaram relapso, contra 38% das pessoas tratadas com antidepressivos.

Aqueles que desejam desbloquear a criatividade e deixar fluir os pensamentos de forma mais lúcida, como muitos escritores e pensadores costumam fazer, também encontram respaldo na ciência. Um novo estudo da Universidade de Stanford, publicado em 2015, comprovou que caminhadas aumentam a criatividade. Nos três testes de “pensamento divergente” aplicados entre 176 universitários, os resultados foram até 60% melhores depois ou durante as caminhadas.

Uma das razões para isso está no aumento de células nervosas no hipocampo. Recentemente, descobriu-se que alguma deficiência nessa estrutura, essencial para a memória, leva a uma incapacidade não apenas de recordar, como de imaginar. Assim, foi constatado que está também envolvida na capacidade de fazermos associações e criarmos conceitos de diferentes formas – ou seja, se sermos criativos.

Não é preciso nem de muito tempo nem de uma academia ou professor: basta inspirar-se em muitas das grandes mentes que há tempos já descobriram que suas habilidades mais notáveis se desenvolvem e se mantêm a partir dos movimentos mais naturais do corpo – como andar e correr. É de graça, não tem contraindicações e traz um pacote de benefícios que remédio algum jamais conseguiu oferecer.

TEXTO ORIGINAL DE CIÊNCIA E VIDA

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