Se você é pai ou mãe, certamente ja se perguntou por que, mesmo quando são criadas na mesma família, as crianças têm personalidades tão diversas. Você já deve ter ouvido dizer, por exemplo, que os primogênitos são responsáveis e os caçulas, rebeldes. Estudos mostram que, de fato, alguns traços de personalidade são mais comuns de acordo com a ordem do nascimento, mas aspectos como o ambiente, a genética, a atenção investida pelos pais e o círculo de amigos também têm influência.
OS MAIS VELHOS SÃO MAIS INTELIGENTES?
O filho primogênito conta com a vantagem de atrair o maior volume de atenção dos pais e é o único que, pelo menos por algum tempo, teve os dois somente para si. Como resultado disso, o primogênito recebe estímulo de qualidade por parte dos pais, o que pode influenciar positivamente seu quociente de inteligência. Um estudo das Universidades de Edimburgo (Escócia) e de Sydney (Austrália), publicado em 2017, observou 5 mil crianças, desde o nascimento até os 14 anos, a cada dois anos. Os pesquisadores concluíram que os filhos mais velhos têm QI maior do que os mais novos, e sugerem que isso tem a ver com a interação dos pais, que é maior com a primeira criança do lar. O primogênito também acaba vivenciando, repetidamente, o papel de líder – é o primeiro a poder dormir na casa de um amigo, por exemplo. Por consequência, ganha uma certa responsabilidade perante os mais novos. Essas são qualidades essenciais para ocupar cargos de chefia, certo? Bingo: Jeff Bezos, fundador da Amazon, é um desses primogênitos em posição de destaque.
Analisando por outro aspecto, porém, o excesso de vigilância, a alta idealização e a expectativa inflada dos pais de primeira viagem podem resultar em cobrança excessiva para a criança. “Os primogênitos que atendo em consultório trazem a questão da exigência dos pais, que lhes gera angústia”, relata a psicóloga Ana Cássia Maturano (SP). “Algumas crianças passam a se cobrar demais”, alerta. O que fazer? Não dizer frases como “você é mais velho, não pode chorar, tem de dar o exemplo”.
A psicanalista Vera Iaconelli reitera que a posição de nascimento não é sinônimo de problema. “Há ônus e bônus em cada uma delas e os irmãos vão encontrar saídas para sobressair de alguma forma”, diz. Se o primeiro tem uma característica, não é difícil que o mais novo procure outra para si.
O cartão amarelo dos especialistas é para que não se rotule a criança, reforçando que o primogênito é responsável e que o caçula é criativo. “Estereótipos não são de todo ruins, desde que a criança não acredite que ela só vai ser amada se possuir tal qualidade”, explica Vera.
O DO MEIO
Entre o mais velho responsável e o caçula bebê da família, o irmão do meio precisa lutar para encontrar seu espaço e conquistar a disputada atenção dos pais. A situação pode torná-los bons negociadores, diplomatas, especialistas em cooperação e comunicação – e até presidentes de uma nação. Curiosidade: mais da metade (52%) dos presidentes dos Estados Unidos é filho no meio.
A facilidade em lidar com pessoas de diferentes personalidades faz deles os mais satisfeitos e felizes em relacionamentos amorosos, segundo entrevistas feitas com 298 participantes por estudiosos da Universidade Bar-Ilan, em Israel. Na cultura popular, porém, é mais comum que sejam lembrados pela “síndrome do irmão do meio”, que seria causada pelo ressentimento que sentem por serem colocados em segundo plano pelos adultos.
A psicóloga Rita Calegari, da Rede de Hospitais São Camilo (SP), defende que dividir a atenção é uma das maiores dificuldades dos pais de mais de um filho, que acabam, conscientemente ou não, priorizando os que mais lhes demandam, como os incapazes de autocuidado (mais novos) ou que trazem desafios por enfrentarem uma situação pela primeira vez (mais velhos). “O erro aqui é ‘descuidar’ daqueles filhos que, justamente por estarem apresentando boas respostas, indo bem na escola, saudáveis, com bom comportamento, recebem menos atenção. Embora compreensível, isso penaliza essas crianças e não é raro que elas protestem”, explica.
Para a psicóloga estadunidense Catherine Salmon, autora de The Secret Power of Middle Children (“O poder secreto dos filhos do meio”, ainda não publicado no Brasil), o fato de receberem menos atenção não é necessariamente algo negativo. De acordo com ela, por terem tido espaço para se desenvolver, depois que amadurecem os filhos do meio se tornam mais capazes de lidar com as adversidades. “Pode haver uma vantagem em não ser aquele demasiadamente supervisionado, porque o excesso de cuidados dos pais impede as crianças de desenvolverem a independência de que realmente precisam para se virar sozinhas”, escreve em um trecho da obra.
Enquanto os primogênitos e os caçulas recorrem aos pais quando precisam de ajuda, os do meio preferem os irmãos ou amigos, de acordo com estudo feito pela Universidade de Redlands (Estados Unidos), com base em questionários respondidos por 400 estudantes de graduação. Segundo os pesquisadores, o fato de terem passado um pouco menos de tempo com os pais na infância faz com que desenvolvam um grande círculo social, com amizades fortes e duradouras e deem mais valor aos laços não genéticos.
OS CAÇULAS E A LIBERDADE
Não deve ser à toa que a própria palavra caçula soe engraçado. Assim costuma ser o nativo do último posto da prole: extrovertido, gosta de se mostrar para as visitas, de fazer graça para os avós, sem nem corar a bochecha por um segundo sequer. Se por um lado ele está livre das tantas amarras com que, muito possivelmente, o primeiro foi criado, por outro, sabe que precisa garantir seu quinhão de atenção sempre em alta diante de todas as demandas do primogênito – e de outros potenciais concorrentes ali no meio.
Como tem pelo menos um irmão mais velho para se espelhar – e de quem receber estímulo –, muitas vezes, o filho mais novo também pode apresentar desenvolvimento mais acelerado.
Para muitos irmãos, o termo mimado poderia facilmente ser parte do sobrenome dos caçulas. Porém, apesar de exibidos e voluntariosos, eles têm muito mais a oferecer do que os shows divertidos dos quais são os únicos protagonistas. De acordo com um estudo publicado em fevereiro de 2018, conduzido pelas Universidades de Tel-Aviv (Israel), Calgary, Laval e Toronto (Canadá), o filho mais novo também é responsável por ensinar aos mais velhos uma importante lição: a da empatia. Na pesquisa, foram analisados 452 pares de irmãos de etnias diferentes, com idades entre 18 e 48 meses, observados em um primeiro momento, e um ano e meio mais tarde. Os pesquisadores notaram que, no exercício da empatia, os mais novos também serviram de modelo aos mais velhos, e não apenas o contrário, como se costumava acreditar até então.
Outro ponto a favor para quem nasce no momento em que as regras da casa, em geral, estão mais afrouxadas é justamente sentir-se apto a arriscar. Na infância, isso pode ser lido como contestação e rebeldia. Já na fase adulta, resulta em coragem e ousadia para encarar desafios, o que costuma ser ótimo tanto na vida pessoal quanto na profissional. Uma revisão de 24 estudos sobre ordem de nascimento, feita pela Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos), chegou à conclusão de que os filhos mais novos participam mais de esportes radicais, por exemplo, do que os nascidos em outras posições. Às vezes, basta olhar tudo com outros olhos, não é mesmo?
O REINADO DO FILHO ÚNICO
Filhos únicos são cada vez mais comuns e carregam o estereótipo de mimados. Pesquisas recentes jogam luz em um outro aspecto. Segundo um estudo da Southwest University (China), eles se saem melhor em testes de criatividade, e têm mais massa cerebral em uma região chamada giro supramarginal, que já foi associada em algumas pesquisas à imaginação e flexibilidade na resolução de problemas. Os pesquisadores atribuíram os resultados ao maior contato com adultos desde cedo.
E se, diferentemente de um, vierem dois ou mais filhos de uma só vez? Nascer na mesma posição também tem lá suas questões. É o caso dos gêmeos. Antes mesmo de pronunciarem as primeiras palavras, as irmãs idênticas Mel e Cristal, de 2 anos, pareciam se comunicar em uma língua secreta. “Uma dava um gritinho e a outra respondia”, conta a professora de educação física Brisa Abreu, mãe das meninas. “Desde sempre elas têm uma conexão forte, gostam de dormir juntas e uma ajuda a outra a dar cambalhota sem eu nunca ter ensinado.”
O pulo do gato é não restringir a convivência dessas crianças com outras crianças, que continua essencial para que elas aprendam a conviver. A psicóloga Ângela Bley, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), ressalta, porém, que é importante que os pais respeitem a individualidade de cada um. “A criança precisa saber quem ela é longe do irmão”, diz.
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Adaptação de Destaques Psicologias do Brasil, com base no orginal do texto de Juliana Malacarne e Milene Saddi para a Crescer.
Ilustrações: Weberson Santiago.
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