Capacidade de enfrentamento em vivências adversas, resistência emocional em situações difíceis, criatividade para reinventar a própria história e elaborar experiências dolorosas… Todos esses elementos compõem o que se pode chamar de resiliência, algo essencial para que sejamos capazes de superar toda sorte de fatalidades e algo que não nasce conosco, mas é construído. Uma vez que esse aspecto é fundamental para uma vida psiquicamente saudável, surge a questão: de que forma podemos ajudar as crianças a construir resiliência?
O Center on the Developing Child da Universidade de Harvard produziu três vídeos e um pequeno artigo sobre o assunto, evidenciando que a resiliência é fruto da interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Cada criança irá constituir sua resistência emocional de forma única, a depender de seu contexto e de suas características particulares. Entretanto, é importante tentar compreender que elementos usualmente favorecem a criação de resiliência, pois, dessa forma, é possível criar e implementar políticas públicas e intervenções mais efetivas.
Veja a seguir quatro fatores que colaboram para o desenvolvimento de resiliência, de acordo com os especialistas da Universidade de Harvard:
1. Boas relações com os adultos afetivamente importantes para a criança
Sejam esses adultos familiares, cuidadores ou profissionais da educação, as relações de confiança, cuidado e afeto desenvolvidas com as crianças serão base importante para que ela se sinta protegida e fortalecida. Mesmo que a criança possua apenas uma relação positiva consistente, esta vivência pode auxiliar na construção de resiliência.
2. Boas oportunidades de desenvolvimento de recursos intelectuais e emocionais
A possibilidade de a criança descobrir suas próprias capacidades intelectuais e emocionais em ambientes seguros será fundamental para que ela tenha mais autoconfiança e, portanto, uma sensação mais intensa de que poderá enfrentar dificuldades por ter habilidades para isso. A relação positiva com os adultos responsáveis por seu cuidado é uma das mais importantes bases para o desenvolvimento dessas capacidades, pois a partir da observação a criança poderá encontrar modelos de como lidar com diferentes situações.
3. Experimentar frustrações e stress de maneira controlada
Algumas situações adversas são importantes para o desenvolvimento da criança. Ela só será capaz de resistir a situações difíceis caso tenha construído um repertório de recursos que podem ser utilizados para sua autoproteção. É preciso dosar essas vivências, considerando que sentimento de extremo desamparo é altamente prejudicial, mas que as frustrações são parte da experiência de qualquer ser humano.
4. Políticas públicas de suporte à infância
Políticas públicas, que oferecem suporte à famílias, preparam os pais para a chegada do bebê e garantem acolhimento de qualidade em abrigos (em casos de afastamento da família de origem), são fundamentais. Nesse mesmo sentido, também é essencial oferecer educação de qualidade, acessível a todas as crianças, independentemente de sua situação socioeconômica. Qualquer política pública que tenha como efeito a garantia de direitos básicos é extremamente importante, pois favorecerá que adultos estejam mais disponíveis para as crianças e interajam com elas com maior qualidade. Além disso, o ambiente favorável proporcionará aos pequenos sensações de estabilidade e segurança.
Ninguém perde a capacidade de resiliência de forma irrecuperável, mas as experiências da infância deixarão marcas mais profundas, sejam elas negativas ou positivas. Reduzir os efeitos de vivências de adversidade nas crianças é algo que colabora muito para sejam saudáveis física, psicológica e emocionalmente. Também é uma das bases importantes de investimento para gerar desenvolvimento social.
Quer saber mais sobre o tema? Recomendamos os três vídeos, em inglês, produzidos pela Universidade de Harvard, disponíveis abaixo:
TEXTO ORIGINAL TODA CRIANÇA PODE APRENDER