Muitos entendem o luto como a morte de um ente ou amigo querido, mas vivemos o processo do luto em muitas situações em nossas vidas, como perda de uma amizade, de um amor, de emprego, de uma condição física, entre outros.
Parkes (2009) apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015), um dos estudiosos mais produtivos sobre o tema, afirma que “[…] para a maioria das pessoas, o amor é a fonte de prazer mais profunda na vida, ao passo que a perda daqueles que amamos é a mais profunda fonte de dor. Portanto, amor e perda são duas faces da mesma moeda” (p. 11).
Para Worden (2013), o luto é classificado como um processo universal resultante da perda de um objeto de apego, incluindo também animais, que produz diversos sentimentos e comportamentos voltados ao restabelecimento da relação com o objeto perdido. Supõe-se que há influências biológicas para que a separação influencie respostas instintivas de reparação. Fatores culturais também moldam a maneira como cada um reage à perda, por meio de rituais religiosos, crenças, muitas civilizações buscar contato com o falecido e também apego aos pertences.
Após a morte, o enlutado necessita de um tempo para adaptação à nova realidade e o comprometimento é relativo à intensidade da relação. Cada processo de luto é único e será influenciado por fatores distintos, como quem era a pessoa que morreu; a natureza do vínculo com a pessoa morreu, antecedentes históricos; variáveis de personalidade; variáveis sociais e estressores concorrentes, como prejuízos secundários, mudanças sobrepostas e crises subjacentes à perda. Dependendo da relação do enlutado com o mundo e com o falecido, pode ocorrer o que se chama de luto complicado, necessitando de apoio especializado para uma adaptação saudável (Worden, 2013 apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
Na análise do comportamento, o conceito de comportamento envolve a relação entre duas ou mais pessoas. Uma pessoa pode funcionar como um estímulo discriminativo (na sua presença, faz a pessoa de comportar porque sabe que vai ser reforçada), também é um estímulo reforçador e operação estabelecedora. Quando uma pessoa se vai, o enlutado perde os reforçadores advindos dessa relação e não se comporta de modo a buscar novos reforçadores, não canaliza sua energia para outro objeto, gerando assim, o sentimento da depressão (Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
Em decorrência dessa perda, alteram-se as contingências de reforçamento vigentes na vida da pessoa e, portanto, é de se esperar que a morte cause grande mudança comportamental em sua vida. A esses novos comportamentos, sejam eles públicos ou privados (como sentimentos e pensamentos), relacionados ao evento da perda, a comunidade verbal dá o nome de “luto”. Sendo o luto um conjunto de respostas de interação com o meio, pode-se analisar essa contingência considerando o vínculo e a perda como estímulos antecedentes, as reações ao luto ccomo comportamentos e o sofrer e a recuperação como consequência (Hoshino, 2006 apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
Elisabeth Kübler-Ross foi uma psiquiatra suíço-americana, nascida em 1926, que se especializou em cuidados paliativos e em situações próximas da morte. Ela estabeleceu 5 fases no processo do luto, sendo que estas podem não ser vivenciadas nesta ordem e nem todas as pessoas passam por todas estas fases. Estas são importantes de serem compreendidas para melhor manejo da situação. As fases de luto são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na negação, o fato de negar a realidade de que alguém já não está mais conosco por causa da morte permite amortecer o golpe e adiar um pouco a dor que essa notícia traz.
É normal as pessoas variarem de leves distorções até à delírios (SOUZA, 2017). Como exemplos dessa negação, o enlutado pode manter os pertences do falecido, continuar se comportando de forma semelhante a como agia antes da perda, negar o significado da perda – por meio de frases como “ele não era um bom pai” ou “eu não o perdi” – e remover todas as lembranças da pessoa morta ou coisas que remetem a ela (Worden, 2013 apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
A raiva e o ressentimento que aparece nesta fase é resultado da frustração que produzimos ao nos darmos conta de que a morte ocorreu e que não há nada que possamos fazer para corrigir ou reverter a situação e normalmente se dá com as pessoas que não tem culpa da situação. Nesta fase, tenta-se criar uma ficção que permite ver a morte como uma possibilidade que podemos impedir. De alguma forma, criamos a fantasia de estarmos no controle da situação.
Na fase da depressão, deixamos de fantasiar realidades paralelas e nos voltamos ao presente com uma profunda sensação de vazio, porque nos conscientizamos plenamente que a pessoa querida já não está mais entre nós. É o momento em que se aceita a morte do ente querido, quando aprendemos a continuar vivendo em um mundo que ele não estará mais, e aceitamos que esse sentimento de superação faz bem. Em parte, essa fase se dá porque o traço que a dor emocional do luto causa vai se extinguindo com o tempo, é uma fase necessária para reorganizar ativamente as próprias idéias e confortar o nosso esquema mental (SOUZA, 2017).
Os passos fundamentais para superação do luto são aceitar a dor da perda; processar a dor do luto; ajustar-se ao mundo sem a pessoa morta; Encontrar conexão duradoura com a pessoa morta em meio ao início de uma nova vida ( Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
A evitação da experiência do luto, que pode ser mediante substâncias psicoativas, evitação de pensamentos dolorosos, fuga de locais ou situações que remetem ao morto, reações eufóricas e tentativas de minimizar a dor, raiva ou outros sentimentos decorrentes do luto. Essa evitação é acentuada quando a sociedade não aceita ou respeita os sentimentos do enlutado ( Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015)
Ajustar-se ao mundo sem a pessoa morta é uma tarefa dividida em três áreas: A primeira delas envolve os ajustes externos, ou seja, a forma como a morte afeta o funcionamento cotidiano no contexto geral. Isso implica que a pessoa deverá desenvolver novos papéis e aprender novas habilidades para compensar aqueles que eram executados pelo falecido (Worden, 2013 apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015). A segunda área envolve ajustes internos, como o senso de si mesmo (self) da pessoa, sua autoestima e seu senso de autoeficácia. Por fim, os ajustes espirituais dizem respeito à visão de mundo do enlutado, suas crenças filosóficas e a forma como percebe o ambiente (Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
É possível que os enlutados deixem de viver suas vidas por causa do falecido. Para superar esse aspecto, não é necessário esquecer o finado, mas, sim, ressignificá-lo e achar um local apropriado para ele em sua vida emocional (Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
Para os terapeutas comportamentais, em um primeiro momento, é importante que realizem a análise funcional dos relatos verbais e comportamentos apresentados pelo cliente, identificando as relações de dependência entre as respostas de um organismo, o contexto em que elas acontecem, seus efeitos sobre o mundo e as operações motivadoras em vigor. Portanto, é crucial que o terapeuta não atue com foco na forma como o comportamento manifesta-se (topografia) e, sim, qual é sua função dentro das contingências em operação (Leonardi, Borges, & Cassas, 2012 apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015). Também deve ajudar a tornar o cliente ciente das contingências em vigor na sua vida e com isso, encontrar novos reforçadores (GUILHARDI, 2002 apud Nascimento, Nasser, Amorim, et al, 2015).
REFERÊNCIAS
NASCIMENTO, Diogo Cesar do et al. Luto: uma perspectiva da terapia analíticocomportamental. Disponível em: <file:///C:/Users/Amanda/Downloads/pa-16204.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2017.
SOUZA, Taiz de. Luto: As 5 fases de Elisabeth Kübler-Ross. Disponível em: <http://www.psiconlinews.com/2017/07/luto-as-5-fases-de-elisabeth-kubler-ross.html>. Acesso em: 26 nov. 2017.
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