A psicologia escolar é uma área que vem se desenvolvendo cada vez mais ao longo do tempo, desde sua inserção no espaço educacional até os dias atuais, a atuação do psicólogo vem se modificando e nesse contexto, de mudanças em um curto espaço de tempo, é natural que surjam dúvidas a respeito de quais são as atribuições desse profissional.
A inclusão do trabalho do psicólogo nas escolas começou no Brasil no século XX. Contribuindo com teorias do desenvolvimento, as atribuições que cabiam ao profissional de psicologia eram: avaliar e diagnosticar alunos em relação à aprendizagem. Inicialmente, a ideia era solucionar os problemas que impediam a aprendizagem do aluno ou do grupo, ou seja, ajustar os alunos às condições de aprendizagem que a escola proporcionava e diagnosticar e encaminhar aqueles que não acompanhavam a rotina escolar.
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Em 1970 a função do psicólogo escolar passou a sofrer transformações, resultado da lei nº 5692/71, que determinou a obrigatoriedade e gratuidade do ensino escolar para a população, o número de estudantes cresceu e consequentemente a demanda por atendimento às crianças que apresentavam problemas de aprendizagem também.
A partir daí, observou-se que solucionar queixas escolares por meio do atendimento individualizado ao aluno, realizando testes e avaliando a capacidade de aprendizado, não estava trazendo resultados satisfatórios para as diversas questões escolares que surgiram.
A atuação do psicólogo escolar então foi se modificando, pois se instaurou um olhar ampliado para o cenário escolar, através da ideia principal de que as pessoas que atuam na instituição, funcionários, professores, diretores, e a inter-relação desses atores tem influência direta ou indireta na sala de aula.
Todos os envolvidos na educação escolar têm suas subjetividades e estas estão necessariamente implicadas no dia a dia. Essa foi a visão que possibilitou a expansão do trabalho do psicólogo escolar, que passou a atuar também nas inter-relações existentes no âmbito escolar. Esse novo cenário possibilitou um entendimento ampliado dos problemas escolares, trazendo maior eficácia na resolução destes.
Assim como afirmam Araújo & Almeida, 2006: “A psicologia escolar passa a ser entendida numa perspectiva relacional e institucional, uma vez que considera para além do atendimento individualizado a alunos com dificuldades de aprendizagem a compreensão do funcionamento da instituição, considerando de que forma a complexa rede de interações no âmbito da instituição contribui ou não para a situação de queixa escolar.”
Outro aspecto novo que se tornou relevante foi o entendimento da importância de se olhar para relação professor-aluno como objeto principal de investigação e cuidado. Contribuir de maneira preventiva para a saúde mental dos professores pode ser também uma das funções do psicólogo escolar. Ter atenção à saúde psíquica do docente é importante devido ao forte vínculo afetivo, intenso investimento no outro e às expectativas em relação aos resultados de seu trabalho. Esse é um trabalho que pode prevenir, por exemplo, a Síndrome de Burnout.
Além desses pontos chaves de atuação, outra forma do psicólogo escolar contribuir nesse âmbito é ajudando a diminuir a violência escolar, e também a segregação de pessoas portadoras de necessidades especiais e assegurar “a inclusão e o cumprimento dos direitos humanos na escola, questionando de que forma a atuação psicológica poderia contribuir com a investigação de situações de sofrimento e segregação de pessoas portadoras de necessidade especiais” (Anache, 2005; 2007).
A psicologia escolar se tornou um campo de produção científica e de atuação profissional. E hoje contribui na relação com a promoção e desenvolvimento da aprendizagem. Está menos voltada para a postura adaptativa e corretiva e tem, como afirma Oliveira e Marinho-Araújo (2009), “buscado solidificar uma atuação de caráter preventivo e relacional, que se sustenta muito mais em parâmetros de sucesso do que fracasso.”
A autora Albertina M. Martínez acrescenta ainda a possibilidade de contribuição do psicólogo nas propostas pedagógicas da escola e no desenvolvimento da criatividade na prática educativa e assim:
“Os conhecimentos produzidos a partir da investigação psicológica podem contribuir para uma prática educativa mais produtiva para a formação, nos alunos, das capacidades e características necessárias para desempenho criativo em seus diferentes contextos de atuação, presentes e futuros” (Martínez, 2001).
Além do trabalho de prevenção, com um olhar para a saúde psíquica dos atores envolvidos na instituição, a ampliação do campo de atuação do psicólogo nas escolas permite a inter-relação de conteúdos teóricos da psicologia com o processo educacional, podendo acrescentar novas possibilidades ao trabalho dos educadores e ainda, aumentar a produção de conteúdo científico, auxiliando cada vez mais o processo educacional nas escolas.
Imagem de capa: Shutterstock/Photographee.eu
Bibliografia
BARBOSA, Rejane Maria; MARINHO-ARAUJO, Clasy Maria. Psicologia escolar no Brasil: considerações e reflexões históricas. Estud. psicol. (Campinas), Campinas,v.27, n.3, p.393-402, 2010.Disponível em :<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010366X2010000300011&lng=en&nrm=iso>. Último acesso: 29 de Agosto de 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000300011.
OLIVEIRA, C.B.E; MARINHO-ARAÚJO, C.M. Psicologia escolar: cenários atuais. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/9075/7475 . Último acesso: 29 de Agosto de 2016.
Araújo, C. M. M., & Almeida, S. F. C. Psicologia escolar institucional: desenvolvendo competências para uma atuação relacional. In S. F. C. Almeida (Org.), Psicologia escolar: ética e competências na formação e atuação donprofissional (pp.59-82). Campinas: Alínea, 2006.
Anache, A. A. A pessoa com deficiência mental entre os muros da educação. In H. R. Campos (Org.), Formação em psicologia escolar: realidades e perspectivas (pp.213-243). Campinas: Alínea, 2007.
Anache, A. A. O psicólogo nas redes de serviços de educação especial – desafios em face da inclusão In A. M. Martínez (Org.), Psicologia escolar e compromisso social:novos discursos, novas práticas. Campinas: Alínea, 2005.
Martínez, A. M. La interrelación entre investigación psicológica y práctica educativa: um análisis crítico a partir del campo de la creatividad. In Z. A. P. Del Prette (Org.), Psicologia escolar e educacional, saúde e qualidade de vida: explorando fronteiras (pp.87-112). Campinas: Alínea, 2001.
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