Por Içami Tiba, em seu site
Os humanos não nascem prontos como as tartarugas. Elas começam a sobreviver assim que nascem sem depender de nenhuma outra tartaruga. Saem dos ovos dentro da areia, saem do buraco e dirigem-se rapidamente para a água do mar. Crescem e voltam para onde nasceram para depositar os seus ovos.
Um humano não nasce pronto e precisa de mãe ou substituta que o alimente e o proteja. Para se tornar totalmente independente, como a tartaruga, vai levar de 20 a 30 anos.
Quando o homem ainda vivia da natureza, como praticamente todos os outros animais vivem até hoje, a maturidade sexual já permitia a sua independência. Bastava-lhe a força física, a inteligência e habilidade para transformar coisas em armas que ele podia ser considerado independente. Isso ocorria no final da adolescência.
O homem vive hoje em um mundo artificial que ele mesmo criou e desenvolveu. Agora para sobreviver é preciso ter competência profissional, para conseguir fazer dinheiro. Não o dinheiro moeda circulante, senão seria preso por ser falsário. Mas desenvolver alguma habilidade cujo resultado seja trocado por dinheiro. A isso o americano diz make money que significa fazer dinheiro.
Um humano hoje precisa se preparar para atingir independência financeira. O melhor caminho para se viver bem e integrado na sociedade é o estudo. No Brasil o salário médio recebido por quem não estudou é de R$ 683,00. Ganha o dobro quem tem o primeiro grau completo: R$ 1.336,00. Com 2º grau completo, praticamente 2,5 vezes mais: R$1.677,00. Com 3º grau completo, são 4,2 vezes mais: R$2.870,00. Um chefe de família com curso superior faz em 10 anos, o não estudado leva mais de 40 anos para fazer.
Mas para se formar em faculdade gasta-se bastante dinheiro (quase 400 mil reais) e muito tempo (20 anos para quem começou estudar aos 2 anos de idade e nunca repetiu). Quem sustenta o humano até ele concluir a faculdade? Seus pais.
A independência financeira é uma das dificuldades-facilidades do humano. A autonomia comportamental é uma outra história. Desde os nossos ancestrais até hoje, o homem nasce do mesmo jeito: gravidez de 40 semanas ou 9 meses, depois passa pela infância e adolescência até chegar a ser adulto com quase 25 anos de idade. É um tempo para amadurecimento biopsicossocial.
Se a função dos pais é preparar os filhos para serem cidadãos éticos e de alta performance, é na adolescência que surgem os conflitos relacionais entre as duas gerações.
Ser bom pai de crianças não significa ser bom pai para adolescentes. Crianças carregam o sobrenome dos pais, adolescentes querem o próprio nome.
Adolescentes querem ser donos de suas vidas ainda sem estarem prontos, quando ainda precisam estudar e muitos deles não querem. Inclusive para sustentar os pais na velhice deles. Sem estudos os filhos não conseguiriam fazer dinheiro nem para eles, muito menos para sustentar os seus pais. Estes acabariam sendo levados para asilos públicos.
Adolescentes não aceitam imposições, portanto é preciso que combinações sejam feitas. Tudo passa a ser uma questão de encontrar o equilíbrio numa fase que os onipotentes juvenis querem chegar aos extremos.
Equilíbrio não é a média. Se pai e filho saem juntos e o filho rouba 2 celulares, na média houve o roubo de um celular por pessoa. Ou seja, o pai também roubou.
A combinação vale pelos resultados. Se for um bom aluno tem as vantagens que os pais podem lhe dar. Se for médio, os pais já têm que diminuir as vantagens. Se for mal, perde todas as vantagens. Não pode parar de estudar.
Quer trabalhar? Ótimo. Entre no mérito dos custos. Quanto custa o filho para a família? Se ele custa mil reais e vai ganhar 300, pode trabalhar, mas que entregue todo o salário para pagar o seu custo e ainda fica devendo 700 por mês. Além de perder benefícios, entregar dinheiro e ficar devendo só para não estudar? Não vale a pena. Mas valerá a pena se os pais afrouxarem, ficarem com pena, derem extras sem méritos.
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Imagem de capa: Shutterstock/Photographee.eu
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