Presentear é um ato milenar. Compõe o esforço de integração e convívio social do homem para firmar-se como ser capaz de estabelecer conexões humanas.

Entrega e presença são palavras que resumem o que está implícito nesse ato, uma vez que ao presentear, a entrega não se limita ao objeto em si. Entregamos carinho, apreço, consideração. Enfim, nos entregamos e fazemo-nos ‘presentes’.

E a origem etimológica da palavra ‘presente’ refere-se exatamente ao tempo presente. Dar um presente é querer materializar-se no aqui e agora e perdurar como presença afetiva diante de alguém. Dessa forma, presentear é um convite para conectar-se e reforçar laços.

No ato de presentear há uma recíproca e alegre expectativa que instala um duplo suspense. Quem oferta quer ver a alegria no rosto do presenteado. Este, por sua vez, quer que o objeto recebido expresse um elevado apreço social vindo de quem o presenteou.

Decorre daí que dar um presente é como segurar um espelho duplo em que presenteado e presenteador podem enxergar o vínculo que os une. Por isso, dar um presente é ato que deve ser revestido de muito cuidado e carinho.

O que importa não é tanto o que é o presente, nem o seu valor tangível, mas de como o gesto de presentear se realiza. O que o cerca e reveste. É por esse motivo, que a embalagem ganha tanta importância para criar uma atmosfera de doação valiosa do ponto de vista do apreço.

Não é por acaso que às trocas de presentes costumam seguirem-se sessões de comentários (tanto da parte de quem deu como da parte de quem recebeu) carregados de avaliações e expressão dos sentimentos gerados não somente pela coisa recebida ou doada, mas por tudo que permeou o ritual da troca.

E é pelo seu valor simbólico como intercâmbio humano, que podemos afirmar que, no limite, o que está guardado no fundo da caixa de todo presente é o valor afetivo do vínculo que une presenteador e presenteado.

A mitologia apreendeu esse valor simbólico do ato de presentear e o representa ricamente na mitologia de todos os povos. Mitos como o da Caixa de Pandora e do Cavalo de Troia ilustram essa importância do ato de presentear explorando o manejo das diferentes situações que podem ser suscitadas pelo gesto de entrega de uma dádiva.

Por todas essas razões, não devemos nos esquecer de que, dar e receber presentes, dois gestos aparentemente simples, envoltos na satisfação comum de dar e receber algo bom, são atos mobilizadores de emoções profundas. Fazem parte do ato recíproco de trocar estima (presentear) que funciona como cola mítica da vontade de cada ser humano de permanecer emocional e socialmente conectado.

Liduína Benigno Xavier

Psicóloga, Mestre em Educação, formação em Facilitação de Processos humanos nas organizações, a escritora é consultora organizacional há mais de vinte e cinco anos; É autora do livro: Itinerários da Educação no Banco do Brasil e Co-autora do livro: Didática do Ensino Corporativo - O ensino nas organizações. Mantém o site: BlogdoTriunfo que publica textos autorais voltados ao aperfeiçoamento pessoal dos leitores e propõe reflexões que ajudam o leitor a formar visão mais rica de inquietações impactantes da existência.

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Liduína Benigno Xavier

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