A palavra troféu vem de expressão utilizada pelos gregos para, nas guerras, nomear os pertences dos vencidos tomados pelos vencedores, e assim, ratificar a vitória.
Hoje, a palavra troféu ainda simboliza vitória e supremacia, mas saiu do cenário bélico e se inseriu em quase todos os campos da atividade humana como sinal inequívoco de reconhecimento.
E essa expansão do uso do troféu para assinalar vencedores é explicável. É quase universal o sentimento de gratificação pessoal experimentado pelos que vencem batalhas pessoais ou coletivas e são por elas, reconhecidos.
E como, em geral, os troféus são atribuídos para reconhecer ações extraordinárias que exigem talento, sacrifício ou superação, os laureados são vistos como seres de capacidade superior. Muitos passam a fazer parte de segmento de seres singulares, espécies de semideuses cultuados por todos.
Talvez, esse seja o principal motivo pelo qual ser distinguido com um troféu seja situação tão cobiçada. Até os maiores em grandeza ou os mais desprendidos, às vezes, deixam escapar certa insatisfação por não serem reconhecidos em algo que os destaca.
Fernando Pessoa já disse: ‘Quantas vezes eu mesmo, que rio de tais seduções, me encontro supondo ser célebre, que seria agradável ser ameigado, que seria colorido ser triunfal’.
Mas, além de responder de forma profunda à necessidade de aceitação social e sucesso pessoal, o ato de ser laureado nutre outras vontades pessoais e outros fins subjacentes: alimenta sentimentos de autossuficiência, reforça hábitos calcados na presunção de superioridade; fomenta vontades pessoais de personalizar fortemente um estilo individual de ação.
Contudo, não podemos esquecer de que receber um troféu implica responsabilidade diante da sociedade que o confere, razão pela qual, é essencial refletir sobre os troféus recebidos ou almejados.
O primeiro ponto a considerar num esforço reflexivo sobre o significado dos troféus é que, em si, eles não são ruins ou bons.
O troféu é apenas um objeto, ocorre que em torno dele são criadas representações que indicam valores. Cada pessoa atribui um sentido à experiência de ser agraciado com um troféu.
Exemplificando a dimensão valorativa dos troféus, temos que um ecologista se sentiria ofendido caso fosse laureado por uma associação de caçadores de elefantes para extração do marfim. E um pacifista, possivelmente, não receberia condecorações por serviços prestados à indústria bélica.
As homenagens em um ponto são parecidas com as ofensas. Cada um que as recebe vai dar peso e sentido diferentes, dependendo dos seus valores e credos pessoais.
É bem ilustrativo disto, um episódio vivido pelo filósofo grego Sócrates. Um transeunte, em certo dia, observou que o filósofo era insultado no mercado da cidade e escutava passivamente, então, questionou-lhe: O senhor vai permitir que o insultem dessa maneira? Ao que o sábio grego respondeu: ‘Por quê? Acha que devo me ressentir se um asno me der coices?’
Assim, para mensurar o significado de um troféu, é útil interrogar antes os valores que fundamentam os propósitos que nos levaram a ser distinguidos. E isto, por uma razão simples: quanto mais elevados os valores que balizam os propósitos, maior o alcance de nossas ações como experiências valiosas não somente para grupos restritos, mas para a humanidade.
Sem dúvida, o troféu é um testemunho inequívoco de êxito, mas é preciso atentar para o que ele ratifica e qual a relevância disso na nossa jornada. Receber um troféu nem sempre nos confere honradez e, não recebê-lo, necessariamente, não nos condena à vulnerabilidade social.
Então, precisamos nos questionar. Os troféus que almejamos são de bronze ou de areia?
A resposta vai depender do que permanece como consequência dos atos e escolhas que nos levaram até eles. O que define o significado de um troféu é o que nos move para ele.
O troféu de bronze que perdura e engrandece é o que atesta coerência e consistência de um projeto de autorrealização que ratifica lucidez quanto à consciência do seu papel social.
Em síntese, não vale a pena sofrer por troféus de areia, os ambicionados por tola presunção de superioridade, prêmios que nos transformam em troféus de nós mesmos como seres movidos por ações alheias à nossa própria substância.
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