Por Pedro Diniz Rodrigues
Para muitos de nós, existem momentos na vida em que a possibilidade de convivência com o sofrimento não é uma tarefa que seja possível de ser considerada.
Nestas alturas, a ferida interna é demasiado grande para que consigamos encará-la diretamente. Por muito que nos esforcemos para a ignorar, ela parece arranjar formas alternativas de nos dizer que está presente, continuando indefinidamente a condicionar a qualidade da nossa experiência de vida.
Damos por nós a cair no paradoxo de nos protegermos deste desconforto interno, adoptando estratégias que embora nos dêem um alívio imediato, têm o efeito secundário de assegurar a manutenção desse desconforto.
O trabalho psicoterapêutico (individual ou de grupo), permite estar numa atmosfera emocionalmente protegida, que nos ajuda a sentir segurança suficiente, para que possamos encarar com menor receio a causa da nossa dor, observando com maior clareza os seus contornos e podendo assim compreender melhor a forma como nos está a condicionar.
É difícil lidar com o que vemos. A falta de sentido que aqui emerge e que assenta na ambivalência e nas contradições entre os nossos pensamentos, emoções e sentimentos, coloca em causa a nossa identidade e abala a nossa auto-estima.
Os nossos valores que sempre nos asseguraram o desejado sentido de identidade e que nos disseram como viver, dizem-nos também para ignorar esta outra parte de nós que agora se manifesta de forma dolorosamente evidente e que nos dá a entender que não estamos a seguir pelo melhor caminho.
Entramos numa fase de convivência indesejada, mas aparentemente necessária com esta ferida simbólica, o que acaba por nos dar acesso ao motivo associado com o seu aparecimento, dando aso a que, posteriormente, lhe possa ser dado um significado.
Ou seja, a fonte da nossa depressão, fobia, culpa, ou vazio existencial, passa a ter agora uma explicação que, dentro de nós, sabemos que faz sentido. Torna-se importante aqui, perceber o que impede a natural expressão desta voz menos conhecida, que até aqui reivindicava a sua existência sem percebermos porquê.
Entramos numa fase de responsabilização de nós mesmos pela manutenção do nosso sofrimento, a qual ocorre à medida que vamos ganhando consciência do que estamos a fazer para manter situação dolorosa e do motivo pelo qual ainda precisamos fazê-lo.
Simplificando, a lacuna entre a causa do sofrimento e o seu produto final, que se traduzia na dor emocional que sentíamos, desaparece progressivamente, passando a ser mais claro para nós o que estava a manter o sintoma de desconforto.
Este é um momento emocionalmente significativo, uma vez que é conquistada a liberdade de escolha, que permite abandonar a pouco e pouco os nossos velhos padrões desadaptativos. Aplicando esta lógica às várias fontes de dor subjectiva que possamos sentir, pretende-se que ao longo da nossa vida, nos permitamos a ter contacto com uma variedade de experiências negativas que até aqui evitávamos, estando mais permeáveis à sua influência, mas também mais resistentes ao seu potencial impacto negativo. Aceitamo-las melhor, olhando-as agora enquanto algo que tem um significado e uma função importante no sentido de nos manterem psicologicamente saudáveis.
Imagem de capa: Shutterstock/Photographee.eu
TEXTO ORIGINAL DE OFICINA DE PSICOLOGIA
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