“O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração”

O tempo está cada vez mais acelerado. Um dia continua tendo 24 horas. Obviedade! Mas temos a sensação de que não conseguimos fazer tudo que queremos. A aceleração do tempo começou na revolução industrial e se ampliou para todos os campos da economia. Hoje o avanço tecnológico provocou um “tsunami” no consumo de bens e na quantidade de informações.

Para ganhar tempo pagamos caro por toda tecnologia. Trocamos de smartphone e computador a cada novidade, os carros são fabricados para serem mais velozes, as revistas e jornais são publicados com muita rapidez e aumentou a produção de alimentos transgênicos, que fornece agilidade no plantio de sementes.

O resultado disso é um excesso de estímulos que somos submetidos no cotidiano, que nos impede, muitas vezes, de pensar antes de agir e de manter a calma. Vivemos numa sociedade da hiperestimulação, que produz o esgotamento das nossas conexões cerebrais e emocionais, apresentando alguns sintomas visíveis:

1. As relações entre familiares, amigos, namorados e casais são prejudicadas. Perdemos o contato físico e negamos o aprofundamento das relações afetivas.
2. Pais e filhos não ficam mais juntos e raramente trocam experiências de vida. Entre eles tudo se discute pelas redes sociais.
3. Cresceu o consumo fast-food. A pressa nos leva a comer de forma voraz.
4. Os pensamentos tornam-se confusos. A nossa mente perde a concentração.
5. O nosso cérebro continua on-line a noite inteira. Mesmo que a internet, o celular, a televisão e outros aparelhos digitais estejam off-line.
6. A maioria dos riscos que os motoristas se expõem no trânsito está ligada à falta de tempo. Quanto mais acelerada a vida das pessoas, mais elas ficam presas no trânsito.
7. A dependência de álcool e drogas é uma epidemia que atingem jovens e adultos. É uma fuga do tédio e da realidade, pois o tempo é duro e implacável com aqueles que sofrem das doenças da alma.
8. Associados a esses sintomas estão à ansiedade, a irritabilidade, o aceleramento dos batimentos cardíacos, o déficit de atenção e o cansaço, que insistem dominar o nosso dia.
É importante lembrar que cronos e kairos são termos gregos para designar o tempo.

Cronos é o tempo medido pelo relógio, calendário e rotina. É o tempo direcionado pelo cálculo frio e pelo dinheiro, determinando prazos.

Porém, kairos significa o momento certo e oportuno. Refere-se ao aspecto qualitativo do tempo. É o tempo do Espírito de Deus, que se revela no abraço demorado, no coração feliz e na leveza do sorriso, como bem disse Rubem Alves: “O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração”.

Portanto, o tempo acelerado se expandiu para todos os setores da vida, não exigindo contemplação, desafio e descoberta. Entretanto, se ajustarmos o cronos (relógio) com o nosso kairos (espírito) aprenderemos a filtrar os estímulos estressores e praticar a espiritualidade, adquirindo a consciência de que a vida é cíclica.






Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista