Todos os dias, quando andamos nas ruas, estamos nos coletivos, shoppings, no trabalho, escola, a presença feminina é fortemente marcada (e exaltada pelos homens). Independente de credo, raça, padrão de vida, etnia, a mulher, ao longo dos séculos, se apropriou de construções de identidade típicas dela. Neste artigo, falaremos do constructo histórico, desde os primórdios, do uso de acessórios, maquiagens e produtos de beleza pela mulher – amor destas pela sua beleza, fenômeno perpassante – de várias culturas, países e séculos. Claro, não generalizando, há mulheres que não se sentem felizes usando acessórios, maquiagens e adornos, no entanto, evidenciar o fenômeno universal feminino que atravessa séculos e milênios.

Alguém já parou pra se perguntar de onde veio a maquiagem, batom, brincos, anéis, entre outros acessórios que a mulher usa? Por que o uso destes? Qual a necessidade que a mulher encontra no uso de brilho, cabelos exuberantes, esmaltes lindos, sobrancelhas perfeitas, max colares perfeitos, batons cintilantes, gargantilhas e etc? Historiadores relatam que a maquiagem, assim como os cosméticos, é muito antiga, provavelmente utilizada desde a Pré-história para a prática de rituais xamânicos, cultos funerários ou cultos à fertilidade.

Três mil anos antes de Jesus Cristo (representante do cristianismo), as egípcias já conheciam a maquiagem: batom, esmaltes, maquiagem branqueadora e de luminosidade, maquiagem para reforçar os olhos e sobrancelhas (à base de chumbo, malaquita, antimônio, Kohl), blush para corar as bochechas (a partir de produtos vegetais, como pétalas de rosa ou de papoulas; animais, como larva de cochonilha; ou mineral, como argilas, óxido de cobre ou ferro ocre), pós que eram misturados com óleos ou pomadas. Outros pigmentos também eram utilizados para a maquiagem: o azul do óxido de cobre, o amarelo do auripigmento, o preto do carbono, o verde da malaquita e mais numerosas nuances obtidas dos óxidos de cobre ou ferro (BADUEL, 2011).

As caravanas que levavam especiarias e seda para a Europa introduziram os cosméticos e a maquiagem na Grécia (ela não se desenvolveria verdadeiramente até o início do século III, sendo anteriormente um atributo das cortesãs) e ao Império Romano; a maquiagem para rosto, o Kohl, foi substituído por uma maquiagem à base de açafrão, antimônio, cortiça queimada, fuligem ou cinzas; o blush corava as bochechas através de amoras esmagadas ou cinábrio.

Muitos produtos da época à base de metais (chumbo, mercúrio) eram tóxicos, estragando a aparência da pele e provocando seu envelhecimento prematuro. Os escritos sobre cosméticos da época (“A arte de amar”, “Os remédios do amor”, “Os produtos de beleza para o rosto da mulher”), de Ovídio, foram perdidos. A atividade da maquiagem, que visava atender um ideal de beleza, estava sujeita a controvérsias religiosas e filosóficas da época grega.

Foi com o retorno das cruzadas que a maquiagem e acessórios se espalharam pela Europa nórdica, onde ela era somente utilizada quando da pintura para rituais. Desde o século XVIII, os nobres utilizavam bases faciais, pintura para cabelos e perfume. No século XVI, as mulheres utilizavam pó branco, bochechas vermelhas e nos lábios, uma mistura de corante de cochonilha. Os olhos, contrariamente ao período anterior, jamais eram maquiados, a fim de não esconder “a janela da alma”.

Desde o século XVII, a maquiagem e acessórios diversos são utilizados por todas as classes sociais. A aristocracia utilizava preciosidades em suas maquiagens, como pó de ouro, prata e pedras preciosas. Os manuais de civilidade dos séculos XVI e XVII recomendavam não abrir a boca, símbolo da oralidade e animalidade, devido aos dentes apodrecidos desde a introdução do açúcar no Ocidente; assim, a maquiagem escondia a boca nesses séculos. As maquiagens à base de substâncias metálicas, emprestadas das artes das pinturas e das miniaturas, continuaram a ser muito tóxicas, como podemos exemplificar citando o “sublimado de mercúrio”, comum no século XVI.

A maquiagem e acessórios na era moderna tornaram-se populares através do cinema dos anos 20. Ainda no começo do século XIX, os cosméticos continham chumbo, mas os produtos modernos são testados em laboratórios e fabricados com recursos neutros como talco, caulim e amido de arroz, aos quais são adicionados óleos e corantes sintéticos.

Já o uso de brincos, anéis e adornos no pescoço surgiram muito antes de Jesus Cristo, datando a Pérsia e Grécia Antiga, como pode ser observado nas ruínas de pinturas e estátuas da Antiguidade. Índias de todo o mundo também usavam (e usam ainda) o brinco como adorno e encantamento por seu pretendente. Não podemos esquecer que antes nos tempos bíblicos as mulheres tinham brincos que eram usados nos narizes, por parte de Israel. Isso ocorreu devido à cultura da época que era necessário para dar importância e valores à mulher daquela época.

Ao longo de vários séculos, a maquiagem, acessórios de beleza, dentre outros, serviram para dar maior embelezamento à mulher – do engrandecimento de sua sensualidade, forma de ser, ao ritual de conquista dos homens, sentir-se bem, cobiçada, desejada, vista, notada. Não que tais acessórios sirvam como amuleto para “chamar atenção” minimizando a real beleza que cada mulher tem, mas sim, de dar mais vivacidade, brilho, enaltecimento à mulher, constituindo a personalidade feminina ao longo dos séculos, perpassando culturas, crenças, ritos, guerras e qualquer tipo de intempérie da humanidade.

BIBLIOGRAFIA
BADUEL, Nathalie, “Une Anthropologie du fard et de la palette à fard en Égypte pré-dynastique, dans La Fabrique de l’histoire, Histoire de la beauté”, Paris, 2011.
OLMES, Anita. “Pierced and Pretty: The Complete Guide to Ear Piercing, Pierced Earrings, and How to Create Your Own“. William Morrow and Co., 1988.
ZILHAO, J et cols. “Symbolic use of marine shells and mineral pigments by Iberian Neandertals”, Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 107, no 3.

Manoel Brandão Neto

Especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde Mestrando em psicologia da saúde (Universidade Federal do Amazonas)

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