A versão de Pinóquio dirigida por Guillermo del Toro, lançada em 2022, é uma verdadeira obra-prima que transcende a narrativa tradicional do clássico conto de Carlo Collodi. Explorando temas como a mortalidade, a guerra e os dilemas existenciais, o diretor transforma a história em uma reflexão sombria e poética sobre o que significa ser humano.
Ambientado na Itália fascista dos anos 1930, o filme combina a fantasia com a realidade histórica de forma magistral. Gepeto, um marceneiro devastado pela perda de seu filho, cria Pinóquio em um ato de desespero e luto. Quando o boneco ganha vida, ele não é apenas uma criatura mágica, mas um ser cheio de curiosidade, desobediência e uma energia quase anárquica, que desafia a autoridade e as convenções da época.
Del Toro utiliza a técnica de animação em stop-motion para dar vida ao seu mundo, resultando em visuais deslumbrantes e cheios de textura. Cada personagem é detalhado com uma profundidade artística impressionante, desde a fragilidade humana de Gepeto até o design excêntrico e encantador de Pinóquio. A trilha sonora, composta por Alexandre Desplat, complementa perfeitamente o tom melancólico e mágico do filme.
O roteiro, coescrito por del Toro e Patrick McHale, ressignifica a narrativa original com um olhar maduro. Aqui, Pinóquio não busca apenas se tornar um “menino de verdade”, mas tenta entender o valor da vida e da liberdade em um mundo cheio de dor e contradições. A presença de figuras como Mussolini e o recrutamento militar do boneco reforçam a crítica política, algo raro em adaptações dessa história.
Comovente e profundamente filosófico, Pinóquio por Guillermo del Toro não é uma fábula infantil convencional. É uma meditação sobre a vida, a perda e a aceitação das imperfeições. Uma obra que toca tanto os olhos quanto a alma, reafirmando o talento singular de del Toro em transformar histórias familiares em algo extraordinariamente novo e impactante.