Graduação, pós, mestrado, doutorado, livre docência, MEC, ABNT, Lattes. Em meio a tantas instituições e regras destinadas à produção científica, onde estão os nossos gênios? Você já deve ter feito essa pergunta e, assim como eu, chegou à conclusão de que não há nada mais a ser inventado. Os antigos deram sorte e criaram tudo antes de nós!
Se acalme, saiba que deixaríamos Foucault feliz somente por refletirmos isso.
Tais instituições, segundo Foucault, coisificavam os indivíduos de forma que os alienavam através de mecanismos de punição, fazendo com que sua existência, uma vez condicionada a esses mecanismos, seja tão supérflua que varie apenas no tempo e espaço. Exemplo disso é a inserção da criança na escola que, decerto, causa um severo ajustamento às regras de normalidade social, fabricando uma subjetivação pré-moldada, que não é restrita ao estágio infantil, mas sim eterna e progressiva. Ao final, todos devem findar no mesmo objetivo: atingir médias que, corriqueiramente, não correspondem ao conhecimento verdadeiro. Na construção do eu, o autor confere que o sujeito age como sendo sempre um correspondente do outro, ou seja, apreendendo os diversos modos de existência, ele clona e encontra o outro em si mesmo.
Assim delineamos a direção da leitura que faremos sobre este louvável autor que contrariava firmemente as formas de controle praticadas pelas diversas instituições: escolas, prisões, hospícios, hospitais, etc., incluindo todos esses setores na constituição da forma de subjetivação do sujeito. Tal lógica foucautiana nos permite fazer uma construção significativa, que deleita uma singela crítica aos mecanismos atuais de ensino, tanto o básico, quanto o superior. Para tal, faço menção aos grandes nomes que marcaram a história criando, e não reproduzindo como fazemos hoje.
Newton se graduou em 1665, porém na metade de sua passagem pela universidade já havia formulado o binômio de Newton, que até hoje é usado. Freud se juntou com Charcot nos estudos com hipnose e, pouco tempo depois, se desvencilhou significativamente para formar a teoria do inconsciente, a partir de poucos embasamentos, fazendo da psicanálise um método usado até hoje, cem anos depois. Da Vinci transitou da pintura para a engenharia, juntando apenas sua prática com desenhos à sua criatividade. Darwin iniciou a faculdade de medicina, porém não passou da metade e, mesmo assim, estudou e criou a teoria da evolução.
Com esses exemplos, exalto que o que lhes outorga o reconhecimento não é a titulação obtida oficialmente por cada um deles, mas sim o que construíram sendo estudiosos e, indiscutivelmente, aprendizes desejantes de seus temas. Não eximo a figura do mestre no aprendizado dos grandes nomes, contudo não admito que tais figuras sejam, sequer, próximas às instituições atuais. Comparemos a frequência da ‘produção’ de grandes renomes de antigamente e a atual, e logo percebe-se uma diminuição considerável que nos leva a algumas proposições: não há mais o que criar? Não há mais criadores? Não há mais liberdade para criar? Se não há mais o que criar, decerto nossa capacidade criativa está diminuída. Se não há mais criadores, justifico, sem medo de errar, que estamos impetuosamente engessados à um sistema – o mesmo citado por Foucault – que descredita qualquer construção não acompanhada de um diploma, inclusive esta.
A produção bibliográfica atual deve ser embasada, precisamente, em autores que estudaram a temática, porém nem todos se titularam para dizer tais pressupostos. Outrora, alguns sem titulação provaram com experiências aceitas cientificamente, outros não precisaram de tal artifício para serem aceitos. Sendo assim, o cuidado na fundamentação que temos hoje diverge, arbitrariamente, com os cuidados dos precursores de algumas teorias, tornando-se altamente contraditório e paradoxal respeitar tal método. Até agora pronuncio somente a forma no qual usamos o conhecimento criado por outros, e quanto a criação recente?
Certamente as novidades atuais são inerentes ao que já foi criado, culminando em uma atualização ou modificação do existente. Não deixa de ser novo, mas não é criado. Nos encontramos em um limbo científico (não me refiro ao método) que prioriza a titulação a qualquer custo, do qual o próprio saber pode ser negligenciado. É certo que há uma crise no método de ensino contemporâneo, restando à comunidade científica uma autocrítica que indique a liberdade do sujeito ao invés de seu assujeitamento intelectual. Nisso, a psicanálise é vanguardista. É a análise que forma o analista, e não a universidade.
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