A realidade é a base mais sólida da existência. Ela é a plataforma na qual fincamos pés para construir uma vida feliz e realizada. Entretanto, apesar de termos de enfrentar a realidade, esta não se apresenta igual para todos.

Há quem viva uma vida tranquila. Há os que precisam vencer batalhas para sobreviver. Existem os que, mesmo sem preocupações materiais, enfrentam os sofrimentos das perdas; os que sofrem angústias e ansiedades originadas dos diferentes tipos de medos e, ainda, quem não vê perspectiva pessoal alguma.

O fato é que, independente de como está a vida de cada um, para todos nós, encarar a realidade é desafiador. E se nunca foi fácil para ninguém, hoje, com o avanço do tempo, viver tornou-se mais exigente.

Desde os primórdios, o homem buscou espaços de diversão para abrandar as pressões da realidade. Os espaços de convivência coletiva: praças, casas de banho; os jogos, atividades e torneios ao ar livre eram muito procurados para essa finalidade.

Hoje, as pessoas se vêm cada vez mais compelidas ao lazer que cresce em importância. Elas percebem que é indispensável criar meios de suspensão da rotina para abstrair a carga de exigências que recai sobre elas.

A grande diferença das práticas de lazer da atualidade, pelo menos das mais procuradas, é o papel de destaque que ganham as atividades voltadas para a fantasia e para o caráter de evasão e fuga da realidade.

Parece contraditório, mas não é. Quanto mais a realidade nos arrasta para provas árduas, mais utilizamos válvulas de escape que nos levam ao mundo da irrealidade. Desse modo, é sintomático desse fenômeno, o crescimento das formas de lazer que proporcionam atmosfera mágica, fabulosa e distante do mundo real.

Esse fenômeno é uma defesa do psiquismo. Funciona como descompressão que ajuda a renovar energia psíquica para a volta à rotina de forma mais relaxada.

Nesse cenário, diversão e arte passam cada vez mais a ser territórios habitados por seres fictícios e extraordinários. Buscamos mundos imaginados repletos de unicórnios, vampiros, dragões, zumbis, fadas e magos.

O fantástico ou surreal passa a ser preferência nas temáticas da Literatura, do cinema e dos jogos. Os hábitos de lazer se confundem com grandes debandadas para ilhas de fantasia.

Assim, entre as famílias e jovens são comuns: a imersão em maratonas de séries televisivas; as caravanas de viagens a lugares fabulosos; o mergulho na atmosfera de filmes fantásticos e o consumo de objetos adornados com figuras míticas.

Dentre essas figuras míticas, não é por acaso, que o unicórnio faça tanto sucesso. Ele é um ser fabuloso e seu significado mais popular, é o de ter a virtude de fazer o impossível. Os chifres do unicórnio representam, exatamente, o poder de domínio sobre todas as dificuldades.

E viver não é realizar diariamente o impossível?

Os unicórnios que vemos estampados em tantos objetos ou reproduzidos como brinquedos, adornos ou talismãs simbolizam, exatamente, o prazer trazido por esse escapismo para um mundo mágico que nos faz pensar que, como os seres míticos, somos capazes de realizar no mundo real, com unhas e dentes, as tarefas que nos cabem.

É assim. Somos seres reais dotados de potencial realizador, mas enfrentamos uma realidade que se apresenta de forma aguda. Daí termos a necessidade de mergulhar na irrealidade ou na pseudorrealidade para reforçar o sonho de que somos capazes de encarar a insanidade que é viver vinte e quatro horas, pressionados pelas tarefas humanas.

Por tudo isso, é preciso cuidar muito bem do nosso unicórnio, ou seja, precisamos realmente sonhar, fantasiar, ter lazer, usufruir do belo e do sensível.

O único cuidado é não mergulhar e permanecer para sempre no mundo da irrealidade.

Quando vamos ao fantástico a passeio, o mundo da irrealidade nos inunda do belo e do sensível; nos abastece de sonhos. Mas, quando queremos morar lá, construímos um mundo de delírios e irrealizações que nos enfraquecem para lidar com o mundo real.

E não há saída. As fugas para a fantasia são fonte essencial de fortalecimento emocional, mas a matéria prima da realização é extraída do real.

Enfim, bom mesmo é morar no real e, de vez em quando, montar no nosso unicórnio e fantasiar por aí.

***

Imagem de Enrique Meseguer por Pixabay

Liduína Benigno Xavier

Psicóloga, Mestre em Educação, formação em Facilitação de Processos humanos nas organizações, a escritora é consultora organizacional há mais de vinte e cinco anos; É autora do livro: Itinerários da Educação no Banco do Brasil e Co-autora do livro: Didática do Ensino Corporativo - O ensino nas organizações. Mantém o site: BlogdoTriunfo que publica textos autorais voltados ao aperfeiçoamento pessoal dos leitores e propõe reflexões que ajudam o leitor a formar visão mais rica de inquietações impactantes da existência.

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Liduína Benigno Xavier
Tags: unicórnio

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