Todos sabemos dos incontáveis benefícios da leitura.
Entretanto, pela dificuldade que muitos enfrentam na obtenção do hábito de ler, parece que, de vez em quando, precisamos ser lembrados desses benefícios. Então, vejamos. Por meio da leitura, desenvolvemos habilidades cognitivas fundamentais ao desempenho de tarefas em qualquer campo de trabalho. E não é por acaso. Com a leitura sedimentam-se habilidades cognitivas como: organização de ideias; expressividade comunicativa; consistência argumentativa e ampliação da acuidade crítica.
Nesse sentido, em virtude do poder formativo da leitura e de sua força no desenvolvimento dessas habilidades, o bom estudante e o leitor assíduo têm vantagens intercambiáveis. Explico. Uma pessoa que lê regularmente tem maior facilidade para compreender e fixar com menor esforço o que estuda. Por sua vez, como a leitura convida ao estudo, um caminho para formar bons estudantes é começar formando pequenos leitores.
Por tudo isso, os benefícios psicológicos são incontáveis. Lendo, vamos aprendendo a noção de esforço sem ansiedades e percebendo que retiramos da solidão e do silêncio, a concentração e não, necessariamente, o tédio. Outro aspecto é a dimensão estética da leitura, como ação sensível e de prazer que empresta importância psicológica ao ato de ler.
Viver a leitura como experiência de sensibilidade é transformarmo-nos em alguém maior do que somos, uma vez que a leitura traz conhecimentos que nos ajudam a ultrapassar a dimensão prosaica da existência.
Quando os gregos antigos queriam desejar mal aos inimigos, pediam aos deuses que lhes dessem maus hábitos. Certamente, os gregos não desejavam aos inimigos que se tornassem bons leitores. A prática da leitura nos reveste de poderes extraordinários. Nada de espadas, capas ou anéis mágicos de super-heróis. É o conhecimento que nos chega por meio dela que nos agiganta na capacidade de compreender, usufruir e transformar o real.
Não é fortuito que relatos de infância, mostram que personalidades notáveis descobriram o poder dos livros precocemente. No conto Felicidade Clandestina, Clarice Lispector refere-se ao livro: Reinações de Narizinho como ‘um livro para ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o’. Para ela, um livro é o amor pelo mundo. Jean Paul Sartre conta que, menino, vagabundeava pela biblioteca do avô e ‘dava assalto à sabedoria humana. Foi ela (a biblioteca) quem me fez’.
A leitura não substitui os atos humanos capazes de forjar o espírito e o caráter, mas é experiência de compreensão ampla da realidade. O ato de ler é como o abrir portais para mundos de significados e possibilidades. No livro A menina que roubava livros, por exemplo, uma pequena judia utilizava livros como mapas para guiar sua existência numa Alemanha infectada pelo nazismo. A vontade de ler deu propósito à sua vida marcada pela fome e pela angústia de uma criança num mundo sem esperança.
De certa forma, os que apreendem o sentido da leitura são movidos pelo mesmo propósito daquela menina martirizada: desvendar os mapas da condição humana nos mundos que criamos.
Imagem de capa: Shutterstock, Por Vadim Georgiev
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