Você se considera uma pessoa criativa?
A maioria das pessoas responde a essa pergunta com visão pessimista quanto à crença na própria capacidade. As razões para tal negativismo resultam da mistura de crenças distorcidas sobre o que seja a capacidade de criar. A primeira dessas crenças é a de que somente gênios e artistas são criativos. De acordo com essa noção, a pessoa criativa é detentora de aptidão especial que lhe confere dons inalcançáveis à maioria dos mortais.
Felizmente esse credo não é compartilhado por todos. Leibniz, um filósofo e matemático alemão interessado em conhecer a alma humana, defendia que todos nós somos naturalmente dotados de capacidade criativa. Para o filósofo, somos reflexo da grandeza de tudo o que constitui o universo. Ele resumia sua posição filosófica sobre a nossa natureza criativa na seguinte frase: ‘a alma é um espelho concentrado do universo’.
E de fato, basta examinar a história da humanidade e ver nossas criações no decorrer dos séculos para constatar que o potencial criativo do homem é quase ilimitado. A segunda dessas crenças que não nos ajudam a expressar criatividade é a que propala que imitar, copiar ou reproduzir modelos é prejudicial à criatividade.
Há controvérsias. Examinar a tradição, imitar bons exemplos, tentar reproduzir modelos criativos de ação é uma boa iniciação a quem deseja incrementar sua iniciativa criadora. O que pode limitar o potencial criativo é a cópia pela cópia, que não busca esmero e inovação. De certa forma, toda iniciação encerra um pouco de imitação. Fazer o já criado abre espaço para enxergamos novos germes da criação.
A história da arte e da produção artesanal é pródiga em exemplos que ilustram esse fato. Picasso copiava pés de pombo, seguindo orientação do pai, para alcançar precisão no traço de seu desenho; os chineses são exímios copiadores de artefatos e objetos de arte de seus ancestrais na busca de superá-los.
O pintor renascentista, Rafael Sânzio, imitava Michelangelo e Da Vinci, fazendo exercícios exaustivos para dominar técnicas da pintura de figuras em movimento. A terceira crença que não ajuda na expansão da inteligência criativa é de fato, uma crença dirigida a nós mesmos. Trata-se de uma insuficiente autoeficácia.
Autoeficácia é a crença que precisamos ter de que somos capazes de iniciar, persistir e finalizar algo, buscando o melhor resultado. Essa confiança no próprio potencial fomenta a iniciativa e mantém a persistência da ação, contribuindo para finalizarmos ações bem sucedidas. Um bom antídoto para a baixa autoeficácia é tentar enxergar nosso histórico de realizações. Por mais pessimista que sejamos, é possível perceber que todos os dias, a gente trava uma batalha para manter a vida no rumo desejado. Então é preciso acreditar em si, inspirar-se e investir na transpiração necessária que fará vir à tona a chama criativa.
E cada pessoa tem seu próprio caminho.
Vincent Van Gogh captava paisagens e momentos pela observação sensível e os traduzia em instantâneos intuitivos que eram retratos de sua própria alma. Freud se utilizava da mitologia, dos contos e anedotários populares no seu aprendizado dos movimentos do inconsciente, captando insights inéditos de compreensão da mente. Salvador Dali forjava uma ‘imperfeição de traços’ para fazer representações perfeitas do desespero, da dor, do desamparo e da força dos seres humanos.
Enfim, ser criativo inclui a coragem de expressar o que somos em tudo o que fazemos.
Imagem de capa: Shutterstock/betto rodrigues