Nossa vida é feita de desafios contínuos, sendo que cada fase do nosso desenvolvimento psicológico tem seu próprio desafio, suas inquietações e dificuldades.
Quando bebês nosso desafio é ENFRENTAR A REALIDADE.

Podemos pensar que o útero materno é o lugar mais seguro que já estivemos e o nascimento consiste no primeiro rompimento necessário a realizarmos. Vir ao mundo é entrar em contato com a realidade, com a angústia e com a necessidade do outro para nossa sobrevivência. Em meio a vivencia do caos e do desconforto eis que aparece o seio materno como uma oferta não apenas de alimento que sacia a fome, mas de afeto, proteção e aconchego.

Ao crescer e ter de enfrentar a realidade que nos é penosa, nos vemos muitas vezes na necessidade de nos recolher, de ficar quieto no nosso cantinho, de voltar ao útero. No entanto, faz-se necessário “sair lá fora” e lidar com as ameaças e frustrações que a realidade nos impõe, para podermos crescer e amadurecer.

Para enfrentar a realidade, o nosso próximo desafio é CONSTRUIR CONFIANÇA em nós mesmos e no outro. Esta experiência de sentir confiança é iniciada na nossa relação com nossos pais ou cuidadores durante a infância e transferida para todas as nossas outras relações que se estabelecerão. Através da confiança podemos nos sentir capazes de fazer as coisas, de aprender e de conquistar. A confiança é a base de qualquer relacionamento, seja no âmbito conjugal, profissional ou de amizade.

Quantas vezes temos dificuldades em confiar em nós mesmos e nas outras pessoas?

Aos poucos vamos crescendo e começamos a adquirir a nossa própria identidade, nosso jeito de sentir, pensar e agir, percebendo-nos diferente do outro. Começamos a ampliar nossa consciência do mundo ao participar dos grupos fora do lar (escola, vizinhos, amigos, igreja, etc.). Logo, o próximo desafio a nossa frente é LIDAR COM AS DIFERENÇAS que surgem nas relações com os nossos pais, irmãos, amiguinhos, etc.

É necessário aprendermos a aceitar que as pessoas que amamos têm sua própria vida seu próprio jeito de ser, independente de nós. O ciúme, a inveja e a culpa irão aparecer. Será necessário a nós aprender que é preciso dividir e compartilhar coisas, experiências e aprendizados, aceitando o outro como ele é.

A experiência de troca, de dialogar, de compreender o outro e se fazer compreendido, de se colocar no lugar do outro são fatos que vivenciaremos ao nos relacionar na nossa vida adulta com os quais, muitas vezes, encontraremos dificuldades.
À medida que crescemos vamos construindo uma imagem de nós mesmos e do mundo a nossa volta, aprendendo que é preciso correr riscos. Para correr riscos o próximo desafio é ADQUIRIR AUTOESTIMA. E, para adquirir autoestima é necessário ter a consciência de nosso próprio valor, reconhecer nossas potencialidades e fraquezas e sabe nos posicionar diante das situações que vivemos sem precisar ameaçar o outro e impor nossas vontades, nem tampouco ficar indiferente às ameaças provindas do mundo externo.

Veja quanta coisa desenvolvemos durante a nossa infância.

Será que nós, adultos, temos a consciência disso? Qual a imagem que temos de nós mesmos? Será que acreditamos em nós?
Continuando nosso percurso, vemos nossa identidade e nossa autoimagem se firmarem no período da adolescência. Esse período de transição da infância para o mundo adulto inclui um processo no qual temos um novo desafio: FAZER ESCOLHAS. Começamos a questionar as escolhas dos nossos pais e familiares e realizar as nossas próprias escolhas. No entanto, ainda somos dependentes dos nossos pais e temos muita dificuldade em ouvir “Não”. Talvez precisamos aprender a capacidade de ouvir e de dizer “Não” e, mesmo diante dos grupos sociais dos quais fazemos parte, conseguir demonstrar nossos sentimentos e fazer o que gostamos de fazer. Também é necessário assumirmos as responsabilidades que as nossas escolhas nos trazem.

Quantas vezes você precisou abrir mão de suas escolhas ou se perdeu diante delas, se deixando levar?

Na juventude e início da vida adulta, nosso próximo desafio é PRODUZIR ALGO, ou seja, construir nosso legado: seja uma família, uma carreira, um projeto de vida com o qual temos intimidade e afeição. Neste período adquirimos a consciência de que precisamos do outro para evoluir e que o outro precisa de algo que podemos lhe dar. É um período fecundo, de realização de sonhos. Só alcançamos com plenitude este desafio se tivermos passado pelos desafios anteriores de forma consciente e proveitosa. Muitas pessoas chegam nesta fase perdidas, sem saber o que desejam e para onde vão, com a necessidade de recorrer a ajuda para superar algumas experiências anteriores.

Você, por exemplo, vive como gostaria de viver? Trabalha com o que gosta? É feliz com sua família e com os amigos conquistados? Qual a contribuição que você está deixando para o mundo?

 

Ao conquistar a maturidade da vida adulta, percebemos o declínio das necessidades que antes eram emergentes e temos a nossa frente o desafio de SER LIVRE. Passamos a levar a vida menos a sério, a não nos preocupar tanto com urgências e com o vigor físico. Não damos mais tanta importância para status e pressões sociais. Temos a necessidade de sentir a liberdade interior e nos reencontrarmos com aquilo que faz sentido para nós. Os filhos (se existirem) já estarão crescidos e mais independentes, o trabalho pode ser encarado com mais leveza e teremos mais tempo para nós mesmos. É claro que liberdade exige responsabilidade, mas nesta fase da vida tendemos a estar mais preparados para tomar determinadas decisões e assumir nossos desejos.

Você se sente livre para fazer algo por si mesmo? Você está em paz com quem você se tornou?

Ao completar mais este ciclo e caminhar para nossa “melhor idade”, o envelhecimento nos faz ter que aprender a controlar nosso corpo e nossa mente, e eis que surge um novo desafio: ENCONTRAR NOSSOS LIMITES. Começamos a perceber a fadiga, as limitações, as coisas que não mais conseguimos fazer com tanta agilidade e rapidez. É o tempo de contemplar a beleza da vida, de olhar para trás e refletir sobre as nossas escolhas, com a coragem de seguir adiante e recomeçar aquilo que é preciso. Adquirimos a consciência de que tudo passa e que nós também iremos “passar”. A finitude da vida se apresenta a nós mais fortemente neste período. Por isso é preciso cultivar a disposição e a vitalidade, nos mantendo em movimento.

Por fim, na última etapa do nosso desenvolvimento, nosso último desafio é o de ENTREGAR A VIDA à fonte da qual ela pertence. Esta fonte pode ser Deus, o universo, a natureza ou qualquer outra crença e valor em que colocamos nossa fé. Seja como for, a vida está presente na morte. Vida e morte são apenas dois lados da mesma moeda. Nem todos chegam até esta fase do seu desenvolvimento, e aqueles que chegam podem ter a oportunidade de fazer isso de maneira saudável, com o privilégio de poder estar em paz consigo mesmo e abraçar a morte com a sensação de que cumpriu sua missão de vida.

 

Desejo que você, meu caro leitor, possa ter recursos internos para enfrentar os desafios da vida, ultrapassando barreiras e vivenciando a felicidade que cada fase do desenvolvimento nos possibilita viver. E, se isso não estiver acontecendo, que você tenha coragem para recomeçar e buscar meios de dar vida à sua existência para quando morrer não se dar conta de não ter vivido…

Audrey Vanessa Barbosa

Psicóloga clínica de abordagem psicanalítica na cidade de Limeira-SP; possui Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela FCA- UNICAMP; ministra palestras com temáticas voltadas ao desenvolvimento humano. Também possui formação em Administração de Empresas e experiência na área de RH (Recrutamento & Seleção e Treinamento e Desenvolvimento).

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