Já todos nós fomos vítimas de ofensas e agressões da mais diversa ordem. Depois passamos dias, meses e até anos a remoer a situação. Uma raiva surda começa a minar-nos por dentro. Sentimos desejos de vingança, ressentimento e amargura. O ressentimento, o hábito de ficarmos constantemente a ruminar no passado, corrói a nossa força vital e enfraquecem-nos ao nível da saúde. É que este estado não traz só um sofrimento emocional mas acarreta o risco de doenças mentais como a depressão e a ansiedade, para não falar nos problemas de stress e sofrimento físico associado.
É dado como certo que o sistema imunitário se encontra diretamente dependente do estado emocional portanto, face a doses massivas de ansiedade, há o risco real de se desencadearem doenças físicas ou seja, de começarmos a adoecer. Face a todas estas evidências, aceita-se agora que o melhor caminho é mesmo a tentativa de perdoar. Mas, perdoar não é um processo simples, pois não é fácil lidar com o poder da ofensa psíquica. No geral, as maiores ofensas prendem-se com temáticas ligadas ao nosso amor frustrado e, por isso, são geradoras de tanto ódio. Contudo, há necessidade de acentuar os benefícios do perdão pois, religião à parte, até a medicina reconhece atualmente a grande importância do perdão na prevenção de doenças físicas e mentais.
ASPECTOS FÍSICOS
Pessoas com personalidades vingativas e um desejo crônico de retaliar, podem colocar-se numa situação de risco muito maior de morte prematura por problemas cardiovasculares. Essas descobertas aumentaram o interesse em estudar o perdão como um potencial fator preventivo para doenças relacionadas com o coração. As pesquisas indicam que o ato de perdoar pode diminuir a tensão, reduzir a pressão sanguínea e a taxa de batimentos cardíacos. Além disso, os investigadores debruçaram-se sobre o conteúdo hormonal da saliva. Formaram dois grupos distintos.
Um primeiro grupo composto por indivíduos envolvidos em relações românticas e outro por sujeitos que disseram não perdoar os seus inimigos e que viviam em casamentos infelizes. Constataram que este grupo produzia um hormônio causadora de stress chamado cortisol, enquanto os membros do grupo mais feliz e disposto a perdoar não apresentavam tal substância. Uma pequena mas crescente quantidade de provas também sugerem que o perdão – especialmente para causas graves – tem um papel em baixar a depressão e a ansiedade, assim como também foi ligado a pequenos aumentos de auto-estima
ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Algumas pessoas mostram-se tão relutantes em perdoar que, inconscientemente, parecem gostar do sofrimento associado ao ódio. Para além disso, o facto de tardarmos a perdoar, implica que nos mantemos presos à recordação e também à pessoa que nos fez mal. É como que uma aproximação pela negativa. Enquanto que o afeto positivo – o amor – nos faz bem e nos gratifica e, por isso mesmo, tendemos a pensar constantemente na pessoa amada, tratando-se do ódio acaba por acontecer exatamente a mesma coisa. Esse facto explica porque muitos casais se mantêm juntos apesar estarem constantemente em conflito.
Existe, por assim dizer, uma dependência doente do outro e um modo de estar que já faz parte do campo do masoquismo. Ferem-se uns aos outros, maltratam-se … e a relação perdura deste modo, sem que tenham capacidade de parar e iniciar todo o processo reconstrutivo e reflexivo que leva ao perdão. Embora o perdão seja um conceito religioso para muita gente, para outros, é uma forma prática de remover ruídos da sua vida. Certo é que o ressentimento e falta de perdão nos prende ao passado. Libertar-se de ressentimentos pode ser um excelente ponto de partida para o inicio de uma vida bastante mais saudável e feliz.
Lembre-se que …
Perdoar faz parte de um processo. Não significa esquecer, mas sim arrumar o ressentimento de uma vez por todas. Assim sendo, o psicólogo Don Shoultz identifica cinco etapas para o acto de perdoar:
1. Reconhecer a verdadeira profundidade da injustiça – Fazer uma análise profunda e realista acerca daquilo que aconteceu. É preciso trazer a dor à tona e trabalhá-la.
2. Lamentar as perdas – Sentir verdadeiramente a tristeza será a única via para se libertar definitivamente dela.
3. Examinar as percepções do mundo que foram alteradas devido à injustiça de que foi alvo – Há a tendência para a generalização acerca da vida, das pessoas…sobretudo após uma grande injustiça. É necessário desmontar estas percepções e perceber que estão erradas.
4. Criar a capacidade de empatia – Talvez seja a tarefa mais difícil, porque implica colocar-se na pele do agressor e entendê-lo.
5. Desafiar os mitos que envolvem o ato de perdoar – Ser capaz de sentir que se pode perdoar e manter a dignidade. Uma coisa não tem nada a ver com a outra!
Imagem de capa: Shutterstock/sbw18
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