Reconhecendo o caráter formativo da leitura, quem não gostaria de conhecer os livros preferidos de ídolos e mestres? Os hábitos e preferências de um leitor dão indícios sobre sua personalidade e forma de pensar. Por essa razão, a biblioteca pessoal ou conjunto de leituras já realizadas por alguém fornece um mapa existencial que pode orientar outros leitores a iniciar ou avançar num caminho de formação.
Assim sendo, conhecer as fontes de conhecimento de sábios e realizadores extraordinários pode ajudar na obtenção de modelos de pensamento mais eficazes e processos mais nítidos de formulação de ideias. E quem há de negar que com um processo de pensamento mais claro, os critérios de escolhas, julgamento e decisão sobre a realidade tornam-se mais eficientes, permitindo um curso de ação bem-sucedido?
Portanto, não duvide: seus mestres, ídolos ou heróis liam e tinham um propósito ao escolher suas leituras. Pesquise um pouco e verá que inúmeras personalidades e vultos históricos têm dado declarações de como as leituras e métodos de estudo de mestres e ídolos tiveram poderosa influência nas suas trajetórias.
Exemplos disso não faltam.
Immanuel Kant, considerado o maioral do Iluminismo, admitiu: ‘Confesso que David Hume me despertou, pela primeira vez, do meu sono dogmático’. E quando Nietzsche leu ‘O mundo como vontade e representação’ de Schopenhauer, sentiu-se atraído pelo pensamento ali expresso. A leitura teve realmente repercussão definitiva na elaboração das ideias e na própria vida do autor de ‘Assim Falava Zaratustra’, que por sua vez, influenciou os existencialistas.
Freud, por seu lado, citava a ‘versatilidade de talentos e extensão do saber’ de Leonardo da Vinci tendo pesquisado as fontes de leitura do criador da Monalisa. Por falar em Sigmund Freud, o que será que lia tão eminente figura? Que obras foram marcantes para o vienense que descobriu o inconsciente?
Basta ler uma das obras de Freud e, de pronto, querer saber o que ele lia. Sua grande erudição, sua capacidade de estabelecer ricas relações entre várias áreas de conhecimento, para dar clareza didática à expressão das ideias. Além desse aspecto, suas explicações são tecidas de forma ampla em textos, cujos conceitos estão cercados multilateralmente, antecipando objeções.
Ali, tudo indica que é o trabalho de um estupendo leitor.
E tendo sido grande leitor, é quase impossível nomear todas as obras que se destacaram para Freud; mas no volume IX das Obras Completas da Edição Standard Brasileira, ele próprio nomeia essas obras. São elas: a Ilíada e a Odisseia de Homero; as tragédias de Sófocles; o Fausto de Goethe, Hamlet e Macbeth de Shakespeare; a Descendência do Homem de Darwin; o Paraíso Perdido de Milton; o Lázaro de Heine; o Livro da Selva de Rudyard Kipling; as Poesias de Anatole France; Fécondité de Émile Zola; e tudo o que escreveu Mark Twain.
Figuram ainda entre aquelas obras primas, as do poeta, médico e historiador alemão Friedrich Schiller e uma biografia Da Vinci, de autoria de Dmitry Merezhkovsky.
Esse levantamento pode ser visto como um exercício banal ou inútil, mas também pode ser um estímulo aos que queiram incrementar sua jornada pessoal de formação.
O caminho de Freud é uma amostra de que nenhuma jornada prescinde de esforço, mas que é possível usar percursos modelares no enfrentamento das vicissitudes do caminho escolhido com maior lucidez.
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