Os truques psicológicos por trás do sucesso do Pokémon Go

Por Chris Baraniuk

“Eu só baixei porque vários amigos americanos estão pirando com isso – pessoas normais, mas que perderam a cabeça totalmente”, conta o britânico Jon Norris, diretor de conteúdo da agência digital Rocketmill, de Brighton, sul da Inglaterra. “Isso” a que ele se refere é o Pokémon Go, novo jogo de realidade aumentada que permite ao jogador rastrear e “capturar” personagens virtuais em lugares reais.
Lançado no Japão e nos Estados Unidos há pouco mais de uma semana, e na Europa há alguns dias, o jogo já conta milhões de adeptos. Mas o aplicativo e seu sucesso estrondoso também estão causando polêmica. A primeira é com o fato de o software ter acesso amplo aos dados do usuário – de emails ao histórico de buscas e ao Google Drive (app de armazenamento de arquivos) – quando se permite que ele entre na conta do Google nos aparelhos que usam iOS.
O psicólogo Andrew Przybylski, do Oxford Internet Institute, estuda os atributos essenciais para que um videogame tenha chances de fazer sucesso. Entre eles, estão o grau de dificuldade do jogo e sua capacidade de fomentar interações sociais com outros jogadores.
Uma das características cruciais do Pokémon Go é que ele funciona em plataformas que a maioria das pessoas já possui e com as quais estão familiarizadas – seus smartphones e GPS.

Isso é muito mais simples do que atividades como o geocaching, por exemplo, que exige um conhecimento mais avançado de localização, além de equipamentos mais sofisticados.
De Snake a Angry Birds, muitos dos games que já bombaram ao redor do mundo também uniam um jogo acessível a tecnologias relativamente novas e fáceis de usar.
“As pessoas já aprenderam a usar seus smartphones como usam o controle remoto da Wii em jogos mais ‘físicos'”, explica o psicólogo.

Mas, para Przybylski, se um jogo tenta usar a nostalgia como elemento de atração, é preciso que ele também consiga ser ao mesmo tempo inovador e divertido. O Pokémon Go parece ter conseguido fazer isso. “A única maneira de oferecer diversão é fazendo o jogador se sentir confiante em si mesmo, dando a ele uma sensação de estar explorando uma novidade e ainda permitindo que ele se conectem socialmente com outros. Se um game cumpre com esses três requisitos, é muito provável que ele faça sucesso”, afirma.

O fascínio das redes sociais
Os usuários do Pokémon Go têm se mostrado mais do que dispostos a sair pelas ruas tarde da noite e se meter em situações inusitadas em busca dos personagens.
Isso fez do game um fenômeno bizarro que também o ajudou com uma dimensão importantíssima para fazer sucesso hoje em dia: trata-se de um excelente alimento para as redes sociais. Em 2013, o escritor e apresentador de TV britânico Charlie Brooker citou o Twitter como um dos 25 videogames que mudaram o mundo.
Apesar de a rede social não ser vista como um jogo, pela lógica de Brooker trata-se de uma interface gráfica com um sistema de competição baseado em pontos (o número de seguidores). A ideia de que as mídias sociais são jogos e podem ser usadas como tal é instigante. Mas com um aplicativo como o Pokémon Go, isso parece fazer mais sentido. Parte do apelo do game, intencional ou não, está na possibilidade de criar memes e de compartilhar experiências em plataformas como o Reddit, o Snapchat e o Imgur.
Assim, o Pokémon Go funciona não só em seu aplicativo oficial, mas também através dessas redes sociais.
Brincar com a personalidade
Psicólogos estão começando a entender por que usar as mídias sociais é algo tão prazeroso. Um dos aspectos mais interessantes é a chance que uma pessoa tem de se moldar e de brincar com sua própria individualidade. Nós também fazemos isso offline. Mas online temos diferentes possibilidades, com vários tipos de recompensas em potencial, como novos amigos ou níveis mais complexos de interação.
Nestes últimos dias, surgiram vários relatos de usuários do Pokémon Go se encontrando por acaso enquanto estão à caça dos personagens. O jogo claramente incentiva o contato social, tanto pela internet quanto ao vivo, o que é raro. Por isso, para Przybylski, a novidade da Nintendo parece ser o game perfeito para a era das mídias sociais. “Usá-las nos ajudou a estar prontos para o tipo de experiência que o jogo proporciona”, diz.
De fato, a maneira como o jogo está sendo utilizado e seu enorme sucesso nas mídias sociais parecem capturar a essência do mantra de Mark Zuckerberg, dono do Facebook: de que as redes deveriam permitir um “compartilhamento sem atrito”, uma atividade que ocorre naturalmente e que dialoga diretamente com os desejos e as necessidades dos usuários.
É claro que ainda não se sabe por quanto tempo os fãs do Pokémon Go vão continuar hipnotizados. Mas, como tudo o que faz sucesso do dia para a noite, trata-se de mais um fenômeno que conseguiu tocar algum desejo profundo compartilhado por muitas pessoas.
Com isso, o jogo pode ter conseguido revelar um pouco mais sobre o que nos motiva.

TEXTO ORIGINAL DE BBC






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