“Palavras erradas costumam machucar para o resto da vida, já o silêncio certo pode ser a resposta de muitas perguntas”

Dia desses fui adicionada a um grupo no WhatsApp e, logo que entrei, uma pessoa com quem não tenho contato há pelo menos 25 anos, fez uma gracinha recordando uma passagem não muito agradável da minha adolescência. Por sorte, ninguém deu corda para o comentário da ex colega – que deve ter parado no tempo – e eu respondi com meu silêncio.

O fato trouxe à tona situações vexatórias que passei nessa fase da minha vida, em que a menina tímida, introvertida e insegura que eu era se deixava abalar por comentários maldosos, nada agradáveis, da turminha “popular” do colégio. A fase de timidez e inseguranças foi embora, e deu lugar a uma compreensão e acolhimento das angústias experimentadas.

Então me lembrei de uma frase que li certa vez, que dizia mais ou menos assim: “Quando a sua brincadeirinha constrange o outro, não é brincadeira, é desrespeito.” Assim, antes de tentar fazer graça e desejar arrancar gargalhadas de seus aliados às custas da intimidação de alguém, reflita se não é preferível o silêncio. Palavras erradas costumam ferir por muito tempo, e nem sempre quem feriu o outro se lembrará disso.

“Quem bateu, esquece. Quem apanhou, não”. Palavras mal proferidas podem cortar, ferir, machucar para o resto da vida. Temos que ser cuidadosos, principalmente quando nossa “brincadeira” intimida e constrange o outro. Igualmente nos momentos de raiva, em que agimos por impulso e falamos sem conhecer, julgamos e condenamos baseados em deduções, ofendemos e denegrimos a imagem de alguém movidos por uma ânsia cega, há que se ter prudência.

O popular conselho de contar até dez ou cem nunca foi tão verdadeiro, principalmente nessa era de hipercomunicação, em que o celular é quase um prolongamento de nossos braços, e num piscar de olhos podemos tanto mandar uma mensagem em CAPSLOCK acompanhada de emoticons raivosos num momento de ira, quanto um coração pulsante num momento de carência afetiva.

Quantas vezes recebemos comentários maldosos em nossas postagens, má interpretação de nossas palavras, julgamentos de nossa alegria, acusações maldosas de nossa euforia… e, no ímpeto, temos a tendência de responder, retrucar, sair em nossa defesa. Porém, na maioria das vezes, estaremos dando ibope para a maldade. E, confie em mim, não vale a pena. Nesse caso, a melhor defesa continua sendo o silêncio. Aprenda: isso basta.

Na dúvida, melhor distanciar e calar. Dar um tempo, uma pausa para acomodar as emoções, um banho morno e algumas orações. Colocar o celular em modo avião, baixar as persianas do quarto e da alma, reconectar-se consigo, recordar o próprio valor. E, acredite em mim, o silêncio certo pode ser a resposta de muitas perguntas!

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Imagem de capa: Aleshyn_Andrei/shutterstock

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*A frase título desse texto é do Padre Fábio de Melo

Imagem de capa: Photo by Dalila Dalprat from Pexels






Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.