Muitos religiosos pregam que a Depressão é uma falta de Deus, fruto de uma vida pecaminosa ou até mesmo da falta de fé. Esses tipos de sermões tornam a vida de quem sofre um transtorno mental ainda pior, impossibilita tratamentos adequados e pode, não poucas vezes, causar o agravamento de quadros depressivos e até mesmo o suicídio.
Porém, não são todos os religiosos que possuem essa visão sobre o tema. Há diversas pessoas que professam alguma fé e defendem uma visão mais científica sobre saúde mental. Reunimos aqui depoimentos de alguns religiosos famosos no Brasil que falam sobre suas experiências com depressão e outros transtornos mentais.
Padre Marcelo Rossi é um dos religiosos que mais estiveram presentes na história da mídia brasileira. Teve diversos CDs entre os mais vendidos do país e best-seller como Ágape. A rotina desgastante e a visão sobre saúde mental nessa época, debilitaram o padre e ele acabou passando por uma depressão severa. ““Eu estava hiperestressado, debilitado e deprimido. Devia ter parado”, disse em entrevista à revista Veja.
Em outra entrevista, Padre Marcelo confessou para o Diário Gaúcho, “Tive que me libertar de uma coisa que eu achava que não existia. Aprendi que depressão existe, sim. Durante muitos anos, eu ajudei as pessoas a se libertarem dela, e de outras angústicas. E eu fui cair nela. Mas encaro tudo isso como uma segunda chance.”
Para superar este episódio de sua vida, o sacerdote contou com a ajuda de médicos, psicólogos e nada disso atrapalhou o exercício de sua fé.
O Padre Fábio de Melo conversou com a jornalista Mariana Godoy, em um programa da Rede TV, sobre a sua experiência de ter enfrentado a síndrome do Pânico.
“Isso, para mim, no meu caso, foi a fatura de uma vida mal vivida. De uma vida sem tempo para um cultivo pessoal absolutamente necessário, porque não importa qual seja a nossa atividade, todos os humanos têm a mesma necessidade. […]
Tenho sido muito fiel ao reconhecer essa necessidade de quietude e de silêncio, de um pouco sossego. […] Eu pensei em morrer muitas vezes, em deixar de fazer tudo que faço, em acabar com tudo o que eu tinha iniciado. É impressionante como o pânico retira o chão da gente”
Padre Fábio de Melo fez tratamento em conjunto com psiquiatra, psicólogos e clínicos gerais. Assim como Padre Marcelo Rossi, demonstrou que nada disso abalou a expressão de sua fé.
“Quando comecei a sentir os primeiros medos, eu não soube identificá-los. Achei que era cansaço, desgaste natural do dia a dia e fico muito assustado que nos dias de hoje a gente tenha se acostumado com algumas patologias mentais que são produzidas por nós mesmos, pelo nosso estilo de vida. A gente não sabe o momento de pedir ajuda.”
Se uma pessoa infarta, descobre um câncer ou chora sangue ( como Jesus angustiado chorou), não teremos pessoas apontando uma falta de Deus. Mas para as doenças emocionais ainda existe essa crença. O relato dos padres servem para refletirmos e olharmos essas doenças como doenças, não como males espirituais.
Mudar de postura em relação a Depressão e outros transtornos salva vidas.
Em 2013, quando veio ao Brasil, o Papa Francisco participou da inauguração de um centro de atenção à saúde mental no Rio de Janeiro. O centro foi construído com recursos da Conferência Episcopal Italiana. Na época, o Frei Francisco Belloti, disse ” “Não, jamais [vamos obrigar pessoas a ir à missa]. A nossa religiosidade é mais para os profissionais, no jeito de cuidar, de dar a medicação, de abordar, de entrar no quarto e acolher a família”.”
"Tê-lo comigo é simplesmente uma prova do amor de Deus”, afirmou a mãe.
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